Alguém me convenceu a ler Pedro Rosa Mendes. Como não tenho acesso às livrarias portuguesas (quero dizer acesso físico), comprei sem folhear Baía dos Tigres. Eis o primeiro parágrafo:
«Em cada milímetro deste chão está o último instante da minha vida. Posso contemplá-lo a perder de vista. É o motivo por que me transportam sempre de noite. Preservam-me. Não me incomoda. Agora mesmo é de noite e há bastante disso. É de noite sempre que não me encontro quieto. Deixei de estar com o medo porque ele me desertou. Transformou-se num território exterior. Enorme falta de solidariedade: não tenho onde de agarrar, o que pode ser fatal. O chão, a estrada, a savana, o país: o medo é um mapa e a obrigação dele. Não sei quantos dias tem de largura. Estamos a atravessá-lo e é de noite. Atravessar a noite é tudo o que tenho.»
Isto teve direito a dois prémios — ao Prémio de Ficção do P.E.N. Clube e ao Prémio de Literatura Fernão Mendes Pinto. Nada a objectar quanto a prémios. Mas, meus amigos, se isto é bom, eu odeio a literatura.