10 de janeiro de 2005
«Três cavalheiros, Santana, Sócrates e Portas, nomearam pessoalmente cerca de 80 deputados. Visto de outro modo, mais ou menos 5.000 pessoas dos cinco partidos, reunidas em comissões locais ou nacionais, nomearam 190 deputados, ou seja, a quase totalidade do Parlamento que entra em funções dentro de seis semanas. Falta agora os restantes oito milhões de eleitores designarem os quarenta deputados que ainda se não conhecem.» Isto é um excerto da crónica de António Barreto no Público do último domingo, que prossegue: «Ao eleitorado, os candidatos nada têm a provar. Nem competências a exibir. Nem confiança política a demonstrar. Muito menos responsabilidade pessoal. Nada! Pelo contrário, é nos circuitos estreitos dos partidos que têm de exibir talentos. Agradar aos chefes. Saber sempre qual é a linha justa, isto é, reconhecer quem manda. Negociar com os autarcas. Conquistar os funcionários. Arranjar dinheiro para o partido. Lubrificar o aparelho. E não fazer ondas.» Também Vasco Pulido Valente abordou a questão no Público de sábado, lembrando que «os chefes» nomeiam pessoalmente metade da Assembleia da República. Nada disto é novo, como todos sabemos, mas a questão levantada por António Barreto e Vasco Pulido Valente continua a não ter a atenção que merece. Não que eu esteja convencido de que os círculos uninominais (que defende António Barreto) ou uma mudança de regime (como preconiza Vasco Pulido Valente) sejam a melhor solução, mas porque me parece evidente que isto não pode continuar assim.