6 de setembro de 2005

«(...) no 11 de Setembro havia um inimigo, um alvo a abater. A vingança era possível e foi concretizada. Um furacão não se pode invadir e ocupar. Num desastre natural não há bode expiatório. Não há vitória. Não é o outro que é responsável. É o próprio, confrontado com a tragédia, que está em causa, nas suas forças e limitações. Só o olhar para dentro faz sentido. Parece que é isto que os EUA nunca conseguem fazer. Lembram um psiquiatra louco, um bombeiro pirómano, um poeta frio ou um soldado suicida.» Este pequeno excerto da crónica de Joana Amaral Dias demonstra bem o que já se sabia: o problema da senhora é com os americanos, e só com os americanos. Americanos que, segundo os exemplos que aponta, são estúpidos, também coisa que já se sabia. Fica apenas a dúvida se foi um arroubo de frontalidade ou se foi a pena que lhe escapou. Também Vítor Malheiros dá largas ao anti-americanismo ao dizer coisas como esta: «[Na América] vivem milhões de pobres, excluídos e esquecidos, mantidos às portas da cidade pelas forças policiais.» E em que «portas da cidade» da América isto sucede? Infelizmente, não disse. E não disse por uma razão muito simples: porque as «portas da cidade» de que fala não existem. Pergunta ainda o ilustre jornalista: «Em que país do mundo civilizado uma catástrofe dá origem a pilhagens de supermercados e armeiros?» A resposta só pode ser esta: em nenhum, pelo que a América não é um país civilizado. O argumento não é lá muito sofisticado, mas quem dá o que tem a mais não é obrigado.