2 de junho de 2006
A ministra da Cultura acha que ler «é um direito fundamental de uma sociedade democrática» e não apenas uma actividade «para eleitos». Isabel Pires de Lima pretendeu, assim, contrariar as recentes declarações de José Saramago — para quem «ler sempre foi e sempre será coisa de uma minoria» — e Vasco Pulido Valente — que rejeitou integrar a Comissão de Honra do Plano Nacional de Leitura alegando que «a carta e a "síntese do Plano"» estavam escritas «num português macarrónico e analfabeto», que «nunca se leu tanto em Portugal», que «um hiper-mercado (...) promove a leitura mais do que qualquer imaginável intervenção do Estado», que «não cabe ao Estado orientar o gosto do bom povo», que o Plano «não passa de uma fantasia para uns tantos funcionários justificarem a sua injustificável existência e espatifarem milhões». Acontece que os argumentos da ministra não passaram de lugares-comuns, e não contrariaram em nada os argumentos de quem acha que o Plano é inútil. Aliás, nem seria de esperar que contrariassem, pois não se vê como o Plano Nacional de Leitura possa alcançar o que pretende. Mas já me espanta que haja tantos «notáveis» dispostos a dar a cara pelo projecto, em que presumo que acreditam. Digo presumo porque José Saramago faz parte da dita comissão apesar de achar que aquilo não serve para coisa nenhuma.