7 de dezembro de 2006
A invasão do Iraque pela tropa americana foi decidida porque havia indícios credíveis (repito: indícios credíveis) de que o regime de Bagdade possuía armas de destruição maciça. Lembro-me perfeitamente das críticas de alguns políticos e das reservas de alguns países quanto à oportunidade de invadir o Iraque, mas não me lembro de ninguém pôr em causa a existência desses indícios. Isto para começar. Depois, a invasão não foi decidida pelo presidente Bush, que não tem poderes para isso. A decisão foi tomada pelo Congresso, com os votos dos Republicanos e dos Democratas, o que levanta a questão de saber se Bush, esse idiota, também enganou os Democratas — além dos demais países que se juntaram aos americanos na coligação, entre os quais aquele de que é primeiro-ministro Tony Blair, esse outro idiota. Em matéria de mentiras, estamos, portanto, conversados. Mas quando se procura combater estas «mentiras» com inverdades, passa a ser demais. E mais chocante se torna quando elas vêm de quem tem responsabilidades nos jornais que se apresentam como de referência, de quem se esperaria que se movesse pelo rigor dos factos e tudo fizesse para evitar a mentira. Falo de António José Teixeira, director do DN, mas podia ser doutros. É que dizer-se que Bush «mentiu» sobre a existência de armas de destruição maciça e que o presidente americano «sabia que estava a mentir» é faltar à verdade, pois isso é uma suposição e não um facto. Dir-me-ão que um editorial é, por regra, um artigo de opinião, e eu concordo. Acontece que a afirmação em causa não aparece no texto como sendo uma opinião, no caso uma opinião do director do DN, mas como um facto. E ninguém acredita que um jornalista tão experimentado como António José Teixeira tenha cometido um erro destes por ingenuidade ou descuido.