25 de abril de 2007

Não me lembro se o lápis era azul, mas recordo-me perfeitamente da porta entreaberta do gabinete do comandante da Guarda junto à qual eu aguardava largos minutos que me devolvessem as «provas». Trabalhava eu nessa altura numa tipografia onde se imprimia A Voz de Trás-os-Montes, onde fui parar numas férias escolares por ter chumbado o ano. Entre outras tarefas, cabia-me levar à censura as «provas» daquele semanário, coisa que eu fazia sem a mais leve noção do que aquilo significava. Recordo o episódio a propósito da data que hoje se comemora, porque me apetece lembrar que havia censura no tempo de Salazar e Caetano que determinava o que os media podiam, ou não, publicar. Dir-me-ão que a censura é coisa que ainda hoje se pratica, e até há quem garanta que cada vez em maior escala. Não sei se é bem assim. Mas, a sê-lo, há uma diferença: ninguém vai preso por falar mal do Governo, e não se fecha um jornal por ser contra a situação. Uma diferença que faz toda a diferença.