12 de junho de 2007
Vítor Malheiros escreveu, a propósito do almoço dos agentes da Judiciária a que o Times fez referência, que num repasto privado «existem limites impostos pelo bom senso quando não por regulamentos oficiais ou pela lei quanto ao que se pode beber», pois é sabido que «o consumo de álcool embota os sentidos e o espírito e existem actividades nas quais nós preferimos que isso não aconteça». E dá um exemplo para ilustrar o raciocínio: «se o mesmo almoço tivesse sido presenciado em relação a condutores da Carris, não veríamos o director de Recursos Humanos da empresa na televisão a dizer que os motoristas estavam na sua hora de almoço e que nos momentos privados as pessoas podem beber o que lhes apetecer que ninguém tem nada a ver com isso». Depois, vai ao ponto a que pretende chegar: «será que conduzir uma investigação judiciária não exige um espírito tão atento como a condução de um autocarro?» Tudo isto porque o jornalista não gostou que a Judiciária não tenha justificado a acusação do Times, alegando tratar-se de um momento privado durante o qual os polícias são livres de fazerem o que muito entenderem. Ora, seguindo o princípio de Malheiros, outras questões se levantam. Por exemplo, não deviam os jornalistas abster-se de ingerir álcool quando almoçam ou jantam? E os médicos? E os arquitectos? E os padeiros? E os bombeiros? E os barbeiros? E todos os outros profissionais a quem, de uma forma ou doutra, «o consumo de álcool embota os sentidos e o espírito»? Não seria bom que houvesse, também para eles, uma lei que regulasse o que se pode beber? E, já agora, quem nos protege do politicamente correcto?