31 de outubro de 2007
O Executivo de Sócrates não tem vontade política para mudar a Casa Pia, diz o ex-ministro Bagão Félix. De facto, o processo Casa Pia está à beira de se tornar uma montanha que pariu um rato — se é que já não é. Pior: não só não houve condenados por pedofilia, como continua a praticar-se a pedofilia na maior das impunidades. Houve quem fosse acusado estando inocente? A ser verdade, é grave. Mas onde estão os culpados dos crimes da Casa Pia? Sim, porque houve crimes na Casa Pia, e para haver crimes supõe-se que tenha de haver criminosos. Passados quatro anos sobre a denúncia do caso, eis algumas perguntas que continuam por responder. Mais: há demasiadas perguntas e quase nenhuma resposta. Pelo caminho que as coisas estão a levar, provavelmente continuará a não haver daqui a mais quatro anos. Nem respostas, e talvez já ninguém se lembre das perguntas. Aliás, a estratégia da defesa parece ser essa: deixar que o assunto caia no esquecimento e termine em águas de bacalhau.
30 de outubro de 2007
«O português nunca pode ser homem de ideias, por causa da paixão da forma. A sua mania é fazer belas frases, ver-lhes o brilho, sentir-lhes a música. Se for necessário falsear a ideia, deixá-la incompleta, exagerá-la, para a frase ganhar em beleza, o desgraçado não hesita... Vá-se pela água abaixo o pensamento, mas salve-se a bela frase.» Eça de Queirós pela boca de Afonso da Maia, Os Maias
29 de outubro de 2007
Como nada tenho para dizer, a palavra a quem tem. Por exemplo, ao Francisco José Viegas (O terror em Angola), ao Nuno Crato (O eduquês envergonhado), e ao Joaquim Manuel Magalhães (Derrocada), os dois últimos graças aos bons ofícios do João Gonçalves.
25 de outubro de 2007
Não li Equador, nem tenciono ler Rio das Flores. Por razões que não vale a pena explicar, mas que se devem, sobretudo, ao escasso tempo para leituras, que me obriga a definir prioridades. Tenho, também, discordâncias de fundo com Miguel Sousa Tavares, mas não misturo o que não é misturável. Posto isto, fiquei com vontade de rever os meus planos de leitura e os pressupostos em que assentam as discordâncias com MST depois de ler esta ordinarice disfarçada de crítica. O que terá levado João Céu e Silva a escrever uma coisa tão baixa?
24 de outubro de 2007
Quatrocentas farmácias não cumprem a lei, diz o ministro da Saúde. Reparem bem: não é um cidadão qualquer que faz uma acusação destas, mas o ministro Correia de Campos. Perante isto, o organismo a quem cabe agir nesta matéria (o Infarmed) diz nada saber, e a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos diz saber outro tanto. Segundo o Público, o Infarmed garante ter agido em conformidade nos «poucos casos» que conheceu, e a bastonária diz que só conheceu um caso — e que terminou, assegura, devidamente punido. Por coincidência (presumo), no mesmo dia em que o ministro da Saúde divulgou este caso o DN noticiava que um farmacêutico do Porto decidiu vender vacinas «a preço de fábrica» e a prestações, mas logo veio o Infarmed dizer que é proibido. Como se vê, há transgressões e transgressões em matéria de lei. Umas detectam-se rapidamente, mesmo sendo excepções — ou, ao que parece, caso único; outras, sucedendo às centenas, não se conhecem.
Bem pode Jardim Gonçalves assumir a dívida da criação que o BCP está ferido de morte. É que, como se vê com mais este episódio, não há dia em que o BCP não seja notícia, e sempre pelas piores razões. Ainda pareceu que as mudanças na administração pusessem fim à balbúrdia, mas não. Como se constata diariamente, há demasiados problemas por resolver, e adivinha-se que outros surgirão a qualquer momento. Com certeza que não deve faltar por aí quem aproveite para meter o pauzinho na engrenagem mal surja a oportunidade, mas isso não desmente (ou desvaloriza) os factos conhecidos por todos.
Então não é normal que o novo líder da bancada laranja substitua os presidentes das comissões parlamentares por gente da sua confiança? O deputado Matos Correia, um dos afastados por Santana Lopes, acha que não. Segundo ele, «a única motivação para afastar as pessoas dos lugares só pode ser política». Ora, que outra motivação esperaria ele que fosse?
22 de outubro de 2007
Rodrigues dos Santos lançou «um romance que vai abrir os olhos de muitas pessoas para os gigantescos problemas que nos esperam». Segundo ele, «temos de estar preparados para o que aí vem, e só o poderemos estar se soubermos o que se passa». Estar preparado para o que aí vem e saber o que se passa é, no caso, ler O Sétimo Selo, a mais recente obra de Rodrigues dos Santos que, segundo ele, tem a particularidade de ter sido revista pelas «maiores sumidades portuguesas» em aquecimento global e energias renováveis. Disse mais o romancista sobre o miolo do livro: «os cientistas estão em pânico com as alterações climáticas», metade do planeta «vai transformar-se num deserto», e «o cidadão comum não tem noção disto». Temos, assim, que nada disto vai suceder graças ao livro de Rodrigues dos Santos. O cidadão comum vai ficar de olhos abertos após ler o romance, e não custa imaginar que quem for capaz de ler um livro destes sem pregar olho é capaz de tudo. De maneira que, caso não haja imprevistos de maior e a Humanidade não acabar até lá, temos Nobel na próxima colheita.
19 de outubro de 2007
Al Gore e Michael Moore têm uma coisa em comum: ambos se especializaram em documentários ficcionados. (O resto está aqui)
18 de outubro de 2007
O ideal seria que só alguns pudessem viajar, e que todos os viajantes fossem cultos e com cabedais de molde a poderem usufruir das coisas boas da vida. Como há os privilegiados e os outros, e como não é possível varrer da paisagem as hordas de labregos, a vida, às vezes, é uma chatice. Mas mais chato ainda, para mim, é a alergia aos labregos. Leio em Pensar (Vergílio Ferreira), por mera coincidência, que «o grande não diz mal do pequeno porque da sua altura não vê». Ora nem mais.
17 de outubro de 2007
15 de outubro de 2007
Mafalda Azevedo, editora em Portugal de Doris Lessing, disse à RTP que a escritora mereceu o Nobel da Literatura porque é «de esquerda», porque aborda questões políticas e feministas, e porque é uma escritora «preocupada» e «activista» dos direitos das crianças. A Academia Sueca disse que Lessing é «um exemplar de experiência feminina», e que a inglesa «sujeitou uma civilização ao escrutínio» graças ao seu «poder visionário». Como se vê, nenhum deles falou do que seria normal falar-se nestas ocasiões: da qualidade literária do premiado. Não que Lessing, de quem nunca li um parágrafo (e não tenho, por isso, opinião), não mereça a distinção. O meu problema é que a qualidade literária conta pouco, ou nada. O que conta é a «mensagem», o activismo, a política — e da qualidade literária nunca se fala. É por isso que, tirando o negócio, o Nobel das letras se vai tornando cada vez mais irrelevante. Pior: pelo caminho que as coisas estão a levar, não tarda que os laureados sejam desprezados por ostentarem tal título.
12 de outubro de 2007
11 de outubro de 2007
Acusado, pela ERC, de ter contratado jornalistas sem ouvir o Conselho de Redacção, o director de Informação da Lusa respondeu que tal se deveu a um lapso. Ora, quem acredita que coisas destas sucedem por lapso? Alega Luís Viana que os membros daquele órgão não cooperam com a direcção. A ser verdade, isso dá-lhe o direito de passar por cima das regras? Quando é que esta gente mete na cabeça que os cargos políticos não estão acima da lei?
Que os governos sejam bons ou maus, é coisa que não importa. O que importa, para o Daniel Oliveira, é que os governos sejam de esquerda, e «contrários aos interesses dos EUA». Infelizmente, não estou a inventar nada — nem, sequer, a exagerar. Foi tudo claramente dito aqui, e não foi propriamente uma surpresa. Surpresa seria se ele dissesse que os bons governos são os que melhor servem os países e os cidadãos que os elegeram, e que os «interesses dos EUA» e dos outros nem sempre são antagónicos.
9 de outubro de 2007
A Administração da RTP diz que Rodrigues dos Santos vai ter que fundamentar, presume-se que em tribunal, as acusações que fez na entrevista à Pública. Até aqui, tudo bem, embora se saiba que assuntos destes nunca se provam e raramente dissipam dúvidas. O caricato da coisa é que os mandarins da televisão pública resolveram, em comunicado redigido num português medonho, tratar Rodrigues dos Santos por «empregado», fazendo questão de lembrar que o jornalista não passa de um mero assalariado de suas excelências cujo futuro naturalmente depende de suas excelências. Até pode ter razão a Administração da RTP, mas o tratamento que está a dar a um dos principais rostos da televisão pública não dignifica a instituição que dirigem.
Fico de pé atrás sempre que o Governo é acusado de comportamento autoritário, e não falo, apenas, deste Governo. Não que eu não ache que não tenha havido comportamentos autoritários, deste ou doutros governos, mas porque geralmente acusações deste tipo são feitas por quem tem interesses na matéria ou não merece confiança — além de as acusações serem, quase sempre, exageradas. A ser verdade o que diz a governadora civil de Castelo Branco, a visita da PSP ao sindicato que preparava um protesto contra o Governo deixa de ter o significado que lhe atribuem, e não tenho motivo para duvidar da senhora. Além disso, se a ideia era intimidar os sindicalistas, torna-se difícil acreditar num expediente tão mal-amanhado. Afinal, qualquer aprendiz de política seria capaz de prever que as buscas da polícia terminariam na praça pública e por beneficiar quem pretendiam intimidar, não é?
5 de outubro de 2007
Goste-se ou não da ideia, a eleição do líder de um partido político directamente pelos seus militantes é mais democrática que a eleição pelo método dos delegados. (O resto está aqui)
4 de outubro de 2007
Nunca escondi o meu nulo entusiasmo por Luís Filipe Menezes, mas há uma coisa que ele merece: o benefício da dúvida. A avaliar pelo que vai por aí, não é isso o que vai suceder. Menezes já é um mau líder ainda antes de o ser, tal como o Governo de Santana Lopes já era mau ainda antes de se conhecer. Não que isto seja mau para o novo líder social-democrata, pois quando as expectativas são baixas, tudo o que de bom fizer é lucro. Mas é do senso comum ver primeiro, e falar depois.
2 de outubro de 2007
Como não bastassem as manobras de diversão dos últimos dias, anuncia-se o afastamento do coordenador da investigação do caso Madeleine após este ter acusado a polícia britânica de investigar «unicamente» pistas e informações «trabalhadas» pelos McCann. O tal coordenador que, recorde-se, a imprensa inglesa acusou de gostar pouco de trabalhar e de beber em demasia. Provavelmente o homem falou mais do que devia, pois tudo indica que o erro dele foi dizer o que a conveniência manda calar. Seja lá como for, o afastamento de Gonçalo Amaral beneficia objectivamente a tese de que a investigação deve seguir determinado caminho e não outro.
Cuba não é «o Inferno na terra», garante o Daniel Oliveira. «O Inferno na terra» é, para ele, os Estados Unidos, onde uma sondagem diz que «quase metade dos americanos não votaria num ateu». Acontece que o «Inferno na terra» de que fala o Daniel é precisamente o país para onde os cubanos fogem cada vez em maior número, como dá conta esta notícia.
1 de outubro de 2007
Como já me fizeram notar, o meu blogue não tem espaço para comentários. Por várias razões, que passo a explicar. Primeiro, quem quiser fazer comentários que os faça enviando-me um e-mail. Depois, as caixas de comentários significariam mais trabalho, e já me escasseia o tempo para posts. Por último, cansei-me de insultos. Como julgo suceder com outros bloggers, grande parte dos comentários que recebo são meros insultos, alguns com a particularidade de me serem enviados por sujeitos que conheço (e me conhecem), que preferem o anonimato para me dizerem o que sob nome próprio não se atrevem. Ora, se há criaturas que me merecem desprezo são as que nem coragem têm para dar a cara por aquilo que pensam, quem insulta sem nunca apresentar argumentos. É que insultar não custa nada, e ainda menos quando os insultos são feitos a coberto do anonimato. Já apresentar argumentos, dá trabalho — e é preciso tê-los.
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