15 de outubro de 2007
Mafalda Azevedo, editora em Portugal de Doris Lessing, disse à RTP que a escritora mereceu o Nobel da Literatura porque é «de esquerda», porque aborda questões políticas e feministas, e porque é uma escritora «preocupada» e «activista» dos direitos das crianças. A Academia Sueca disse que Lessing é «um exemplar de experiência feminina», e que a inglesa «sujeitou uma civilização ao escrutínio» graças ao seu «poder visionário». Como se vê, nenhum deles falou do que seria normal falar-se nestas ocasiões: da qualidade literária do premiado. Não que Lessing, de quem nunca li um parágrafo (e não tenho, por isso, opinião), não mereça a distinção. O meu problema é que a qualidade literária conta pouco, ou nada. O que conta é a «mensagem», o activismo, a política — e da qualidade literária nunca se fala. É por isso que, tirando o negócio, o Nobel das letras se vai tornando cada vez mais irrelevante. Pior: pelo caminho que as coisas estão a levar, não tarda que os laureados sejam desprezados por ostentarem tal título.