5 de março de 2008

PROFESSORES. É fácil e barato atribuir aos governos os fracassos desta ou daquela área da governação, nomeadamente os fracassos resultantes das reformas (ou falta delas), até porque razões são coisa que mais há. Mas é preciso que se diga que os fracassos se devem, sobretudo, à resistência dos abrangidos pelas reformas, por regra avessos a mudanças e prejudicados com as mudanças. Não se podem fazer reformas no ensino que vão contra os professores? Era só o que faltava. As reformas no ensino têm (ou devem ter) como fim último a melhoria do ensino e do aluno. Se implicarem mudanças dolorosas, que impliquem. Vem nos livros que o bem-estar de uns quantos não pode sobrepor-se ao bem geral. Claro que as reformas devem ser feitas com os professores, não contra os professores. Mas contra os professores, se for necessário. Claro que os professores se preocupam com a qualidade do ensino, e ninguém duvida que o queiram melhorar. Mas a prática vem demonstrando que os professores são o principal obstáculo à mudança que as reformas implicam. Nada me move contra os professores, atenção. Mas já me chateia que queiram ser eles (ou os seus representantes) a ditar as regras do que deve ser feito e como deve ser feito. Chateia-me que sejam eles a impedir reformas que todos consideram essenciais, pois eles são parte interessada — e ninguém é bom juiz em causa própria. Chateia-me que os professores se movimentem como se não fossem, também, culpados pelo que vai mal no ensino. Chateia-me que os problemas do ensino se circunscrevam aos problemas dos professores, por mais razões que eles tenham, e por mais legitimidade que lhes assista para lutar pela sua resolução. Chateia-me que o politicamente correcto impeça que se diga, com frontalidade e clareza, que as reformas no ensino passam por atingir os professores, ou parte substancial dos professores, pois ninguém acredita em reformas no ensino que não atinjam os professores. Chateia-me, por último, que não se veja que o fim único das reformas na Educação é (ou deve ser) os alunos e a qualidade do que aprendem, não os professores. A reforma do ensino é um imperativo nacional, garantem políticos e educadores. Deve, por isso, ser feita o mais rapidamente possível, custe o que custar e a quem custar. Se for necessário passar por cima dos professores, que se passe por cima dos professores. Afinal, os professores não são intocáveis, e a Educação é muito mais que os problemas dos professores.