EMIGRANTES. Manuela Ferreira Leite acusou o PS de pretender distorcer o voto dos emigrantes nas legislativas ao substituir o voto por correspondência pelo voto presencial. Carlos Pereira, ex-presidente do Conselho das Comunidades(*), classificou a iniciativa socialista como «arcaica e retrógrada», considerando que ela só irá contribuir para o aumento da abstenção. A Comissão Nacional de Eleições diz que o fim do voto por correspondência não trará quaisquer efeitos benéficos. Do lado contrário, o PS garante que o voto presencial dará maiores garantias de fiabilidade, e que ele acabará com os «sindicatos de voto». José Lello, para quem o voto por correspondência tem «muitas imperfeições» e pode ser «potencialmente permeável à fraude», garante que o novo processo vai trazer «dignidade acrescida» ao acto eleitoral, e o líder parlamentar socialista jurou que o modelo agora introduzido pretende, apenas, defender «a transparência e rigor nos actos eleitorais». Aludindo à suspeita de irregularidades, Vasco Franco, também do PS, defendeu que o novo processo evita «chapeladas que subvertem a natureza pessoal e secreta» do voto, e o PS de Bordéus foi mais longe: «o voto presencial acaba com a vergonha que tem sido alguns membros de alguns partidos andarem a arrebanhar votos porta a porta e a preencherem os boletins de voto pelos outros eleitores». Pesados os argumentos de uns e de outros, concluir o quê? Tirando a circunstância de PS e PSD estarem realmente preocupados com a contabilidade (estão em jogo quatro deputados do círculo da emigração tradicionalmente conquistados pelo PSD), o que sobra daqui? Salvo melhor opinião, sobra que nenhum deles quer realmente saber dos emigrantes, que não foram ouvidos nem achados. Descontando meia dúzia de gatos-pingados, que reagiram consoante o emblema que têm na lapela e apenas a questões levantadas pelos media, ninguém quis saber dos emigrantes, muito menos do que eles pensam. Mas o mais perturbante é não se saber o que pensa o Conselho das Comunidades, se é que pensa alguma coisa sobre o assunto. Quererá o silêncio dizer que alguém o calou? Falo de borla, mas que é estranho o silêncio do Conselho das Comunidades, lá isso é. A não ser, como suspeito, que o Conselho esteja moribundo, apenas à espera que lhe façam o obituário. Quanto à mudança do voto por correspondência para o voto presencial, tenho mais dúvidas que certezas. Se o sistema anterior não era bom, duvido que o actual seja melhor. Aliás, foi uma discussão que ficou por fazer, muito por culpa do Conselho das Comunidades, pois duvido que alguém ficasse esclarecido acerca das vantagens ou desvantagens dos modelos antigo e actual com aquilo que foi dito.
(*) O Conselho das Comunidades é um órgão de consulta do Governo para as políticas relativas à emigração e às comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo