3 de novembro de 2008

FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO. Seja qual for a intenção, é sempre interessante ver alguém sair à rua em defesa dos talibãs e do fundamentalismo islâmico. Foi o que fez Faranaz Keshavjee, no Público, onde se diz «perplexa» por não se considerar terrorismo os actos que visam liquidar os talibãs e outros fundamentalistas islâmicos, que ela considera iguaizinhos ao terrorismo praticado por talibãs ou outros fundamentalistas islâmicos contra quem não pensa como eles. Vindo de quem vem, isto é, de quem se intitula «estudiosa de temas islâmicos», dá que pensar, pois quando se vêem «estudiosos» a pensar desta maneira, imagina-se o que pensará quem tem menos instrução. Certamente a senhora não ignora que foi o fundamentalismo islâmico quem decidiu atacar o Ocidente e seus valores, não o Ocidente o fundamentalismo islâmico. Contrariamente ao que ela pensa, o Ocidente não tem um problema com o Islão, mas o Islão tem, definitivamente, um problema com o Ocidente. Diz ainda a ilustre que «ninguém pede ao mundo cristão ou aos seus líderes que se levantem e condenem esta versão da cristandade», como se estivesse a falar de uma evidência à prova de bala. Acontece que não é. Não é a «cristandade», nem qualquer outra religião, que combate os talibãs e outros fundamentalistas, mas uma coligação internacional composta por gente de várias religiões, incluindo muçulmanos. Curiosamente, na mesma semana em que um ataque em território sírio despachou um dirigente talibã, que tanto a indignou, a execução de uma criança (de 13 anos) na Somália, por apedrejamento, não lhe mereceu a mais leve referência, muito menos repulsa. Isto para já não falar no atentado ocorrido na Índia cometido por um grupo islamita, ainda na mesma semana, de que resultaram oito dezenas de mortos e três centenas e meia de feridos. Como se vê, Faranaz Keshavjee indigna-se facilmente contra o que toma por relativismo, mas socorre-se, também ela, do relativismo, quanto mais não seja omitindo o que não lhe convém. Sim, porque o normal seria uma pessoa indignar-se mais rapidamente com a morte de uma criança nas circunstâncias em que ocorreu do que com um líder talibã. O que mais me chateia no fundamentalismo islâmico é constatar-se que os «estudiosos», de quem se esperaria que condenassem tais práticas, são os primeiros a legitimá-las. Umas vezes calando o que não devem, outras vezes fazendo de conta que não vêem, outras ainda relativizando.