2 de fevereiro de 2009

A PROCISSÃO AINDA VAI NO ADRO. Não se devem tirar conclusões com base, apenas, em evidências, sobretudo quando se está diante um caso de enorme gravidade, e as evidências carecem de solidez. Mas como ignorar a demissão de um director da Judiciária que enquanto tal terá dado prioridade à investigação do «caso Freeport» (embora não se saiba se foi afastado por esse motivo), e o afastamento de dois técnicos cujos pareceres chumbariam o projecto de Alcochete caso fossem considerados? Como ignorar que a «campanha negra» de que Sócrates diz estar a ser vítima teve origem na Procuradoria-Geral da República (que reabriu o processo) e no departamento governamental britânico Serious Fraud Office (que colocou Sócrates numa lista de suspeitos)? Como fazer de conta que não existem factos (repito: factos) que ninguém contesta, sobre os quais se legitimam, naturalmente, especulações? É certo que ainda estamos na fase em que as perguntas são mais que as respostas, e provavelmente jamais sairemos dela. Mas se ainda é cedo para se tirarem conclusões, também é cedo para que se possa dizer que estamos diante uma invenção dos media destinada a atingir pessoal e politicamente o primeiro-ministro, como o próprio garante. O que parece certo é que o «caso Freeport» se transformou num «assunto de Estado», como disse o presidente da República, embora se duvide que o tenha dito com essa intenção. Queiramos ou não, quem olha para o primeiro-ministro neste preciso momento só vê uma coisa: o «caso Freeport», sobre o qual quer saber se é culpado, ou não.