«Teixeira de Pascoaes? Pois sim... Pois sim...», diz o cretino que sempre aparece ao nosso lado, como um anão saltitante, quando a morte dum grande poeta ou de qualquer outro «anormal» nos dá, em bloco, todas as razões de o amarmos sem reservar sentimentos, sem aguardar cautelosamente que tudo seja dito para tomarmos partido, para assumirmos a atitude «conveniente», o ponto de vista «a ter», o gosto a exibir...
«Pois sim... Pois sim...», como se fosse possível meter o poeta do Regresso ao Paraíso num encolher de ombros ou num arroto de despeito... (E eu pensava, com aquele extremo cansaço, aquela imensa vontade de desistir que nos assalta quando topamos com certos «especialistas» de poesia: «Talvez não arrotes o mesmo quando chegares à minha idade...»).
«Pois sim... Pois sim...», como se fosse possível reduzir o poeta a uma «filosofia», arrumar em quatro palavras Teixeira de Pascoaes, momento da nossa poesia, mastro desse barco de loucos que é a nossa poesia portuguesa!
«Pois sim... Pois sim...», como se fosse possível a mediocridade fazer os gigantes por moinhos, os grandes poetas por moinhos de palavras....
Alexandre O’Neill, Recordação precipitada de Teixeira de Pascoaes publicada no volume Já cá não está quem falou
30 de junho de 2009
26 de junho de 2009
i. Além de outros defeitos, parece-me evidente que o novo diário (o i) cometeu um erro de palmatória: é difícil grafar o nome do jornal sempre que dele se pretende falar sem que o leitor tropece como se tropeçasse numa gralha. Grafado entre aspas, ainda vá. Mas sem aspas, como hoje em dia é usual fazer-se, dificilmente poderia ser pior. Para quem nasceu habituado a ver a internet como um bem quase tão importante como a electricidade, parece-me um erro básico. Isto para já não falar do conteúdo, ou mesmo da forma como ele é apresentado, que não acrescentam uma vírgula ao que já existia.
25 de junho de 2009
BENFICA (3). Nada contra um candidato que é sócio do Benfica há cinco anos, desde que não haja impedimento legal. Mas não deixa de ser curioso que um candidato à presidência do Benfica seja sócio, apenas, há cinco anos. Não acredito em conspirações, como já ouvi quem insinuasse. Mas uma coisa é por demais evidente: a presidência do Benfica é um lugar apetecível, seja o candidato «muito» ou «pouco» benfiquista. Certamente que a generalidade dos sócios ficariam mais descansados com um candidato que não fosse um «recém-chegado», embora os que fazem parte da mobília não garantam, por si só, que as coisas corram melhor, como se tem visto. É que um «recém-chegado» pode dar a ideia de que se tornou sócio com o fim único e exclusivo de se tornar presidente de um clube importante, cujas vantagens me parecem tão óbvias que nem vale a pena enunciar. Não é uma insinuação: é uma possibilidade.
BENFICA (2). Têm acompanhado o circo à volta das eleições no Benfica? Se não têm, desistam de perceber o que lá se passa. É que são tantas as trapalhadas, e tão maus os candidatos (e os candidatos a candidatos), que as coisas prometem piorar. Bem sei que é difícil piorar, mas não será por falta de empenho dos candidatos.
24 de junho de 2009
LOURAS. É impressão minha, ou andam para aí a citar o «insulto» de Menezes sem terem lido a entrevista onde ele foi proferido? É que Menezes não disse que «Pacheco Pereira é a loura do PSD», mas que «Pacheco Pereira é a loura do regime». Faz alguma diferença, não faz?
23 de junho de 2009
PACHECO PEREIRA. Confesso que não estou a ver o que levou Pacheco Pereira a proibir a publicação da entrevista por ele concedida ao i após o mesmo jornal tem destacado, em manchete, uma frase de Luís Filipe Menezes que dizia sobre o seu adversário de estimação: «Pacheco Pereira é a loura do regime.» A declaração de Menezes roça o mau gosto e o destaque do jornal pode, quando muito, ser pouco elegante, mas a reacção de Pacheco é um exagero. Diria mais: é incompreensível. Pacheco Pereira conhece bem a lógica dos media para saber que, a haver destaque para a entrevista a Menezes, só podia ser aquele. Razões de queixa, sinceramente, só das louras, que só não reagiram provavelmente por serem mais interessantes que o retrato que Menezes faz delas.
IRÃO. A história é velha e por todos conhecida, mas ainda há quem insista: quando as coisas não correm bem na paróquia, a culpa é dos de fora. Desconfio, porém, que o efeito que se pretende será nulo. Chávez passa a vida a «descobrir» conspirações para o eliminar, evidentemente lideradas pelos americanos. Repararam que já ninguém se dá à maçada de produzir o mais leve comentário sobre tão graves acusações?
22 de junho de 2009
BENFICA (1). Bruno Carvalho, candidato à presidência do Benfica, garante que a gestão de Luís Filipe Vieira já vai num passivo de 70 milhões de euros. Garante mais o empresário: correrá com Jorge Jesus caso seja eleito presidente dos «encarnados», porque tem um treinador «para todo o mandato» (Carlos Azenha), que naturalmente considera melhor. Perante isto, apetece-me, desde já, perguntar: que credibilidade merece um sujeito que ameaça correr com um treinador acabado de contratar? Ou Bruno Carvalho é um demagogo (o mais provável), ou Bruno Carvalho é um irresponsável (o que eu não acredito). Quanto custaria ao Benfica despedir Jorge Jesus daqui a duas semanas? Estará ele disposto a pagar do bolso dele as consequências do seu despedimento? Se não está, para quem iria sobrar a factura? Bem sei que o candidato já admite manter Jesus caso o novo técnico «se enquadre no projecto» por si liderado, isto é, já admite fazer precisamente o contrário do que prometeu ainda há dois dias. Mas isso só demonstra que o cavalheiro não é de fiar, pois ninguém acredita que se mude radicalmente de ideias de um dia para o outro. Para uma candidatura que conta com os serviços de uma empresa de comunicação que esteve ligada à vitória de Florentino no Real, como se diz por aí, o mínimo que se pode dizer é que Bruno Carvalho está mal aconselhado.
PALPITES. Pode ser que me engane, mas a transferência de Ronaldo para o Real vai ser um fiasco em termos desportivos. Um clube que aposta mais no sucesso financeiro que no sucesso desportivo, como o próprio presidente madrileno admite, não pode ser grande futuro para um jovem que ainda tem potencial para evoluir e muito para dar. O prestígio e os milhões cegam qualquer um, mas não me parece que foi essa a primeira razão que levou Ronaldo a mudar-se para Espanha. A confirmar-se o palpite, espero, sinceramente, que me engane. Por ele, e pelo futebol português, que não deixará de se ressentir, por exemplo, na selecção de Queiroz.
19 de junho de 2009
HUMILDADE, DIZ ELE. A autocrítica é um exercício saudável, e uma prática muito recomendável. Mas quando ela é feita por mera estratégia e sem um pingo de sinceridade, pode resultar no contrário do que pretende. Ou muito me engano, ou a «nova estratégia» de Sócrates é um caso em que a emenda é pior que o soneto. É que os eleitores perceberão que tão drástica e repentina mudança só pode trazer água no bico.
ELISA. Já sabíamos que Elisa Ferreira tencionava ir ao Parlamento Europeu assinar o ponto e voltar, mas hoje ficamos a saber que o Parlamento Europeu é, para ela, um «trampolim inconfessável». As coisas que se aprendem com os pantomineiros.
18 de junho de 2009
BEM PREGA FREI TOMÁS. Depois de Ana Gomes e Elisa Ferreira, que tencionam abandonar o Parlamento Europeu caso sejam eleitas para as câmaras de Sintra e do Porto e cuja revelação lhes valeu críticas do cabeça de lista social-democrata ao mesmo Parlamento Europeu (Paulo Rangel chamou-lhes «candidatas fantasma»), eis que o mesmo Rangel admite abandonar o PE caso o PSD vença as próximas legislativas. Bem sei que a lei não proíbe manobras destas, mas o expediente não deixará de ser visto como, em meu entender, deve ser visto: uma aldrabice pura e simples. É por estas e outras como estas que os portugueses cada vez votam menos, e que os partidos extremistas vão conquistando mais espaço.
16 de junho de 2009
EUROPEIAS. Assente a poeira, só mais uma coisa acerca das Europeias. Parafraseando um respeitado treinador do Benfica (Mário Wilson dizia que um treinador do Benfica se arrisca a ser campeão), Manuela Ferreira Leite arrisca-se a ganhar as próximas Legislativas. Não que a vitória nas Europeias me convença por aí além, mas porque há sempre a possibilidade de os figos caírem de maduros. Manuela não deixou de ter os defeitos que lhe apontam com a vitória nas Europeias, e só por cortesia ou politiquice se diz que a vitória se deveu a ela. Não basta dizer que Manuela venceu apesar da má imagem, de não ter jeito para o cargo que desempenha, ou de se calar quando não devia. Por mais respeitáveis que sejam, as opiniões não mudam os factos.
15 de junho de 2009
CHOCANTE. Difícil escrever sobre o que vi no Metropolitan de Francis Bacon sem lançar mão da enciclopédia ou socorrer-me do lugar-comum. Direi, por junto, que nunca uma obra me causou tanto desconforto, e não digo pouco. Fosse eu menos ignorante na obra do pintor irlandês, estivesse eu um pouco mais informado acerca do que ia ver, e jamais teria visto a retrospectiva do Metropolitan. Definitivamente que prefiro o que me reconcilie com o mundo, e dificilmente ainda haverá algo que me choque por boas razões. Valeu-me que não fui ao museu por causa de Bacon, mas por quase tudo o que lá está, que sempre vejo como se fosse a primeira vez.
MUITO BOM. A seguir com atenção O Diário de Encólpio, do Filipe Nunes Vicente, que já vai no quinto post. (Os restantes estão aqui, aqui, aqui e aqui.)
CANCRO. As pessoas que têm cancro estão num estado de fragilidade tal que me parece excessivo esperar que se comportem de forma razoável. Não tem, por isso, razão o que diz João Pereira Coutinho.
11 de junho de 2009
RONALDO. Qual é o problema de Ronaldo ganhar milhões a dar pontapés na bola? Querem que ele cite Camões quando abre a boca? E que defeito terá quem gosta de o ver nos relvados fintando os adversários? Será intelectualmente menos capaz? Por que é que o futebol há-de ser visto como um concorrente (ou inimigo) das actividades ditas do espírito? Não há pachorra para tanto preconceito (e ressentimento) contra o futebol e seus artistas.
HAJA DECORO. Não fosse o caso ser demasiado sério para ser tratado como uma mera brincadeira, seria risível. Que autoridade tem um partido político, no caso o PSD Madeira, para exigir à ERC que averigúe «do pluralismo e do rigor», da «isenção e independência da informação», da «protecção dos direitos, liberdades e garantias pessoais» da RTP e RDP locais, bem como o Estatuto Editorial do DN da Madeira por alegadamente estar a ter um modo de actuar igual ao PC, quando o governo chefiado pelo seu próprio partido possui um pasquim onde põe e dispõe? É só falta de vergonha, ou esta gente chegou a um ponto em que, como diria Eça, as leis se afastam para eles passarem?
SUÍNOS. Alguém percebe o motivo que levou a Organização Mundial de Saúde a «decretar» a pandemia suína? Tirando os profissionais do ramo, provavelmente ninguém. Até ver, a única coisa que se percebe é que aumentou o clima de medo, para o qual os media, felizmente, não estão a contribuir. Não basta dizer que se trata de uma «pandemia moderada». Uma pandemia, por mais que se explique o significado, nunca será vista como uma coisa moderada.
PRAGMATISMO E VARIAÇÕES. Contrariamente ao que possa parecer, sobretudo aos que me lêem no blogue, desejo que as coisas corram bem a Obama. (O restante está no sítio do costume.)
TOMEM NOTA. À atenção dos árbitros que vão apitar os próximos jogos da selecção portuguesa de futebol: Organizador do Mundial 2010 preocupado com apuramento de Portugal
MICROSOFT. Será que os senhores que mandam na Europa não percebem que a ausência do Internet Explorer no Windows prejudica, antes de mais, os utilizadores?
9 de junho de 2009
JORNALISMO SEGUNDO CINTRA TORRES. Eduardo Cintra Torres considera que um programa de jornalistas não devia condenar outro programa de jornalistas. No caso, o Clube de Jornalistas não devia condenar o Jornal Nacional de Manuela Moura Guedes. Ora, não vejo porquê. Acho, aliás, precisamente o contrário. Parece-me bem e muito saudável que os jornalistas condenem o que entendem não ser jornalismo, ou péssimo jornalismo, seja ele praticado por quem for. Não pensa assim o crítico do Público. Cintra Torres acha que o bom jornalismo é o jornalismo que é contra o Governo (contra o Governo actual, pelo menos), e o que não é contra é mau. Que os métodos utilizados por esse mesmo jornalismo sejam, ou não, correctos, é relevante caso lhe dêem jeito e insignificante se lhe estragarem a teoria, e o facto de se misturar opinião e informação é irrelevante pelo simples facto, imaginem, de que «praticamente todo o jornalismo actual é opinativo». Reparem bem na lógica de Cintra Torres: «todo o jornalismo actual é opinativo» — logo uma prática correcta, logo não merece reparo. Eis o conceito de jornalismo daquele que provavelmente será o mais influente crítico dos media portugueses, o que ajuda a explicar a porcaria que por aí se publica.
5 de junho de 2009
EUROPEIAS. Quantos portugueses acompanharão, pelos media, a campanha para as europeias? A fazer fé no espaço que lhe tem sido dado, muitíssimos. Mas eu duvido que o espaço que lhe concederam corresponda ao interesse dos leitores (e eleitores), e que a maioria dos portugueses saiba quem são os principais candidatos e as funções que desempenharão caso sejam eleitos. Uma coisa, porém, julgo saberem: alguns dos deputados que vão ser eleitos no próximo domingo não porão os pés no Parlamento Europeu caso seja eleitos (ou passarão lá tão pouco tempo que será como não tivessem sido escolhidos para lá estar), à semelhança do que sucede com a Assembleia da República, onde grande parte dos eleitos se esfuma mal terminam as eleições. Dir-me-ão que a lei o permite, quer num caso, quer noutro. Pois são precisamente estes expedientes legais que nos fazem desconfiar até dos mais sérios.
4 de junho de 2009
LAPSOS E MAIS LAPSOS. Primeiro, Joe Biden divulga, por lapso, o local onde Cheney se terá escondido no 11 de Setembro, como se imagina uma informação altamente secreta. Depois, a Administração Obama divulga, também por lapso, uma lista «altamente confidencial» onde se descrevem as instalações nucleares americanas e as suas actividades. Pode ser que me engane, mas estes e outros episódios demonstram a escassa importância que Obama e o seu Governo atribuem à segurança e ao terrorismo, questões cada vez mais cruciais nos dias que correm e de particular relevância quando se fala dos EUA. Claro que a Administração Obama se apressou a dizer que o lapso em nada comprometeu a segurança dos EUA. Mas quem acredita? Passará pela cabeça de alguém que o Governo iria admitir a gravidade do caso?
3 de junho de 2009
MAIS OBTUSO QUE ÓBVIO. O João Gonçalves, seguramente um dos melhores bloggers portugueses e que leio com prazer mesmo quando dele discordo, confunde alhos com bugalhos. Então o facto de Sócrates ter nascido em Vilar de Maçada e se ter tornado beirão «emprestado» é razão para achar que ele não merece confiança? Valha a verdade que João Gonçalves não está sozinho neste «raciocínio», embora só muito raramente se veja em letra de forma, e quero crer que por mera distracção.
ALEXANDRA. Como já se percebeu, «o caso Alexandra» é mais uma demonstração de que a Justiça não funciona, ou funciona mal, como se fosse preciso demonstrar o que todos estão fartos de saber. Mas o mais grave é constatar-se a inexistência de sinais que apontem para melhorias, como se estivéssemos perante uma fatalidade irremediável.
1 de junho de 2009
JORNALISMO (3). A ERC, Entidade Reguladora para a Comunicação Social, nunca me inspirou simpatia, nem o contrário. Umas vezes concordei com ela, outras vezes não, outras ainda fiquei sem saber se tinha, ou não tinha, razão. Mas a decisão que tomou sobre o controverso jornal da TVI, à qual se juntou a do Conselho Deontológico dos Jornalistas, não deixa margem para duas interpretações: o Jornal Nacional de Manuela Moura Guedes mistura factos e opinião, e isso é eticamente inaceitável. Diz o director da estação que a decisão da ERC em nada mudará os padrões que «tornaram os jornais da TVI nos serviços informativos mais procurados pelos portugueses», como se estivéssemos perante uma lógica irrefutável. Acontece que não estamos. Segundo a princípio de José Eduardo Moniz, o que é o bom é o que as pessoas querem, e o cliente tem sempre razão. Dan Brown é um excelente escritor porque vende milhões de livros, Quim Barreiros é um óptimo músico porque vende toneladas de discos, e assim por diante. O pior é que não estamos diante uma lógica puramente comercial, segundo a qual o princípio se aceitaria. O caso denunciado pela ERC configura uma violação das regras do jornalismo, e quando assim é não basta mudar de canal — ou os fogachos inconsequentes da ERC. Só mais uma coisa sobre o caso: ao contrário do que os responsáveis da TVI nos querem fazer crer (dá-lhes jeito que assim seja), as críticas ao «jornalismo» de Manuela não vêm, apenas, de organismos governamentais ou de sectores que lhe são afectos. As críticas vêm, também, dos jornalistas, apesar de poucos serem capazes de as fazerem aberta e frontalmente. E ainda mais outra: insiste-se que o problema de Manuela é o estilo, que toda a gente diz não apreciar. Ora, toda a gente vê que o estilo é uma questão de somenos. O verdadeiro problema é a substância, que o estilo, quando muito, sublinha.
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