1 de junho de 2009
JORNALISMO (3). A ERC, Entidade Reguladora para a Comunicação Social, nunca me inspirou simpatia, nem o contrário. Umas vezes concordei com ela, outras vezes não, outras ainda fiquei sem saber se tinha, ou não tinha, razão. Mas a decisão que tomou sobre o controverso jornal da TVI, à qual se juntou a do Conselho Deontológico dos Jornalistas, não deixa margem para duas interpretações: o Jornal Nacional de Manuela Moura Guedes mistura factos e opinião, e isso é eticamente inaceitável. Diz o director da estação que a decisão da ERC em nada mudará os padrões que «tornaram os jornais da TVI nos serviços informativos mais procurados pelos portugueses», como se estivéssemos perante uma lógica irrefutável. Acontece que não estamos. Segundo a princípio de José Eduardo Moniz, o que é o bom é o que as pessoas querem, e o cliente tem sempre razão. Dan Brown é um excelente escritor porque vende milhões de livros, Quim Barreiros é um óptimo músico porque vende toneladas de discos, e assim por diante. O pior é que não estamos diante uma lógica puramente comercial, segundo a qual o princípio se aceitaria. O caso denunciado pela ERC configura uma violação das regras do jornalismo, e quando assim é não basta mudar de canal — ou os fogachos inconsequentes da ERC. Só mais uma coisa sobre o caso: ao contrário do que os responsáveis da TVI nos querem fazer crer (dá-lhes jeito que assim seja), as críticas ao «jornalismo» de Manuela não vêm, apenas, de organismos governamentais ou de sectores que lhe são afectos. As críticas vêm, também, dos jornalistas, apesar de poucos serem capazes de as fazerem aberta e frontalmente. E ainda mais outra: insiste-se que o problema de Manuela é o estilo, que toda a gente diz não apreciar. Ora, toda a gente vê que o estilo é uma questão de somenos. O verdadeiro problema é a substância, que o estilo, quando muito, sublinha.