12 de agosto de 2010
FONTES ANÓNIMAS. Vale a pena ler a última crónica do Provedor do Leitor do Público — e, já agora, não só a última crónica. Chamo a atenção para a última crónica porque nela se fala das fontes anónimas, do uso e abuso das fontes anónimas quando se esperaria que apenas fossem usadas em circunstâncias excepcionais, em casos em que a informação é de tal modo relevante que não há como as ignorar — e, claro, sempre que não seja possível identificar as fontes sem as expor a situações delicadas. Apesar de o provedor se revelar crítico com o uso das fontes anónimas, não abordou, como se esperaria, um tema de que nunca se fala quando se abordam estes assuntos: as fontes anónimas que não passam de invenções dos jornalistas, que vêem nelas um expediente seguro para dizerem o que lhes apetece sem terem que identificar a origem da informação. Como não bastasse o facto de as fontes anónimas se prestarem, pela circunstância de os seus autores não serem identificados (e não estarem, por isso, sujeitos a escrutínio acerca da veracidade do que dizem), a que sobre elas se levantem as mais legítimas suspeitas (até porque custa a crer que algumas das fontes anónimas não possam identificar-se sem correr riscos maiores), a possibilidade de os jornalistas atribuírem a fontes anónimas o que eles próprios inventam reduz ainda mais a confiança na informação que não pode ser confirmada. Tenho, aliás, cada vez mais dúvidas de que se deva recorrer às fontes anónimas, mesmo em caos mais extremos. É que o precedente das fontes anónimas abre caminho a toda a espécie de abusos, não só por parte dos jornalistas, e suspeito que o que se ganha não vale o que se perde.