14 de março de 2011
NÃO HÁ PACHORRA. A morte de alguém, mesmo em circunstâncias trágicas, não torna bom quem não foi bom. Custa-me, portanto, engolir elogios aos mortos que se tornam bons porque já cá não estão, geralmente feitos pelos mesmos que em vida diziam cobras e lagartos deles. Feita a «declaração de princípios», como agora se diz, apetece-me perguntar: o que terá feito Carlos Castro de tão extraordinário para que dele se diga que a sua morte foi uma tragédia para o país e se reclame uma rua em Lisboa com o seu nome? Ou tenho andado distraído, ou não lhe vejo nada no currículo que o justifique. Castro limitou-se a publicar umas crónicas onde revelava quem dormia com quem e o extraordinário mundo das socialites — ofício execrado por qualquer pessoa de bem e pelo jornalismo dito de referência, embora o jornalismo dito de referência já visse melhores dias. Estarei, por acaso, a exagerar? Dizem-me que o sujeito era amigo do seu amigo, que gostava de ajudar os outros, e que era uma pessoa generosa e pacífica. Mas será isso suficiente para merecer o aplauso do país? Desculpem a inconveniência, mas eu estou convencido de que o mérito do sujeito resultou inteirinho do facto de ser gay e gostar de o exibir. E incensar os gays por o serem é, para mim, pior que ser contra eles.