24 de maio de 2011

COISAS SEM IMPORTÂNCIA (2). Imaginem que as coisas são o que parecem, que Dominique Strauss-Kahn é culpado do que é acusado. Por acaso já pensaram na vítima? Imaginaram o calvário que terá pela frente até ao julgamento? Imaginaram que lhe vão vasculhar a vida privada desde que nasceu e usar tudo o que contribua para a desacreditar, incluindo mentiras da pior espécie? Imaginaram que a violência de que já foi vítima poderá não ter sido, afinal, a parte pior? Claro que nada do que se diz nas notícias contribui para que se olhe para o caso também por este ângulo. Afinal, a vítima é uma simples camareira, é mãe separada, nasceu num país mais ou menos desgraçado, e vive num local pouco recomendável — tudo factores que, além de não a ajudarem, ainda se poderão virar contra ela. A ver vamos o que isto vai dar, mas caso se demonstre que DSK é culpado é mais que certo que haverá quilómetros de prosa a dizer que a pena foi excessiva e horas de televisão a relembrar que a justiça americana é coisa de primatas, e nem uma lágrima por ela. Ela que, até ver, é a vítima, embora às vezes não pareça.