10 de junho de 2011
OS CRIADORES E A LIBERDADE. Imagino que não haverá pior para um criador (escritor, artista plástico, músico, cineasta, etc.) que viver num regime totalitário, onde a liberdade de expressão não existe. Ou o criador está em sintonia com o regime (uma contradição, que o acto criativo é, por natureza, anti-sistema), ou está perdido, porque a criação resulta, essencialmente, da insatisfação do seu criador, e isso é já admitir que o sistema em que vive não o satisfaz — logo é perigoso. Tirando a oposição ao regime (quando há), ninguém é tão afectado pela ausência de liberdade como os criadores, cuja criação necessita de liberdade como os criadores necessitam do ar que respiram. Estranho, por isso, que grande parte deles esteja sempre disponível para protestar contra regimes onde a liberdade é um bem adquirido quando estes regimes sacrificam parte dela em troca de mais segurança (o caso dos EUA é um bom exemplo), e raramente abram a boca contra regimes onde a liberdade não existe. A ignorância de tudo o que os rodeia que não tenha a ver com as suas áreas de interesse explicará alguns casos, mas seguramente que não os explicará todos — nem, sequer, a maioria. Assim sendo, por que razão isto acontece? Por paradoxal que pareça, porque os criadores têm uma visão muito peculiar do mundo, diria mesmo conservadora, e nem as evidências os fazem mudar. É bom não esquecer que os criadores são excepcionalmente dotados na arte da fuga, e talvez isso explique o que doutro modo não é fácil explicar.