2 de dezembro de 2011
CONTRA A MARÉ. Não sou grande entusiasta do fado, como já disse variadíssimas vezes. Também não estou a ver o que o país, e o fado, ganharão com o facto de a cançoneta ter sida considerada património da humanidade. Tirando o momentâneo fervor patriótico, que terá consolado o ego a muita gente, não se vislumbra que outra utilidade possa ter. Pelo contrário. Lido e ouvido o que se disse, constata-se que afectou os neurónios de muito boa gente. A fadista Mariza, por exemplo, defendeu que o fado deve ser leccionado nas escolas. Não esclareceu se deve ser matéria obrigatória, mas imagino que sim, e seguramente que não estará sozinha nesta sua pretensão. Curiosamente, grande parte dos entusiastas do fado não são grandes apreciadores de música, como se pode verificar por aquilo que ouvem. Não haverá uma relação de causa-efeito, mas também não me parece uma questão de somenos. Afinal, a aparente contradição levanta uma pequena pergunta: como é possível gostar de tão grande música (como o fado será), e depois gostar de música que não vale um caracol? Sim, o fado faz parte da cultura portuguesa, cantou — e continua a cantar — os grandes poetas da Pátria, e tudo mais que quiserem. Mas o fado também é música, e como tal deve ser julgada. Aliás, não sou entusiasta do fado essencialmente por causa da música, que me parece demasiado primitiva, insuportavelmente repetitiva, e previsível para lá do razoável.