21 de fevereiro de 2012
A LAMÚRIA DO COSTUME. Como leitor, é sempre com tristeza que encaro o encerramento de uma livraria, qualquer livraria. Provavelmente a que mais tristeza me causou até hoje foi o encerramento da Strand da Fulton Street, que visitei pela primeira e última vez quando já se empacotavam os livros e já tinha dia marcado para encerrar. Leio agora que a Livraria Portugal fechou (ou está em vias disso) e sinto a mesmo tristeza, apesar de lá ter entrado apenas duas ou três vezes nos meus verdes anos. Mas se o encerramento de uma livraria me causa tristeza, também devo dizer que geralmente não me comovem as lamúrias que apontam as grandes cadeias livreiras como as causadoras dessas desgraças. Conheço pequenas e médias livrarias em Nova Iorque que estão de muitíssimo boa saúde financeira apesar das megalojas por todo o lado, geralmente da Barnes & Noble. Até alguns alfarrabistas, apesar de nos últimos anos muitos se terem mudado para os subúrbios por não aguentarem o preço das rendas. Sempre que vou à Strand (agora reduzida à loja da Broadway), à Book Culture, à Shakespeare, à Saint Marks, à McNally, à Rizzoli, à bookbook ou à Biography encontro-as cheias de gente. E porquê? Porque são livrarias de grande qualidade. Porque apostaram na diferença. Porque investiram em áreas específicas sem descurar o que de melhor se vai publicando. Porque geralmente fizeram as três coisas. Nada disto se viu nas livrarias que foram desaparecendo. Deviam, portanto, queixar-se de si próprias, e só de si próprias. Atribuir a desgraça própria ao sucesso alheio soa mal, e neste caso não é sério.