27 de março de 2012
DESPENALIZEM-NO. Provavelmente o ciclismo é o desporto profissional que mais usa substâncias proibidas para aumentar o rendimento dos seus atletas — ou, então, é o desporto profissional mais vigiado. Não há época velocipédica que não se detecte o chamado doping em figuras de primeira linha, e são tantos os exemplos que não é exagero suspeitar-se que a generalidade dos ciclistas consome substâncias proibidas. A diferença é que uns são apanhados, outros não. Não faço ideia se o espanhol Alberto Contador, último caso conhecido, é inocente do que foi considerado culpado, como o ciclista reclama, mas a verdade é que não me lembro de um único ciclista admitir o consumo de substâncias proibidas, mesmo depois de todas as evidências, e também não me lembro de um recurso dar razão ao acusado. Defendo, por isso, o fim do controlo anti-doping, que cada atleta ingira livremente o que muito bem lhe apetecer — antes, durante ou depois de competir. Afinal, o doping sempre existiu — antes e depois do controlo, antes e depois de novas substâncias passarem a constar da lista de produtos proibidos. Apesar da vigilância cada vez mais apertada, o doping continua a existir, e salvo um ou outro percalço o crime compensa. Aliás, como saber se os inventos de Thomas Edison não resultaram da ingestão de químicos que mantinha por perto, nomeadamente cocaína, morfina, estricnina e ópio, além de um tal vinho Mariani, que entre outros ingredientes conteria cocaína? Como saber se a teoria da relatividade de Einstein não resultou do consumo de coca ou LSD, este último detectado no sangue após a sua morte? Como saber, afinal, se os grandes feitos da Humanidade não resultaram, todos eles, da ingestão de substâncias que potenciaram o desempenho do corpo ou da mente, proibidas ou não? E mudam o quê se vier a demonstrar-se que assim foi?