OBSCENIDADES, OU TALVEZ NÃO. Tal como escrever com humor não está ao alcance de qualquer um, escrever ordinarices geralmente não consideradas como tal (ou que apenas o são na aparência) ainda é mais difícil. Isto a propósito de alguns livros recém publicados, especialmente Puta Que os Pariu!, de João Pedro George, Pornopopeia, de Reinaldo Moraes, e de um misterioso autor português que dá pelo pseudónimo de O Meu Pipi. Do primeiro, nomeadamente do título, pouco terá a dizer quem já conhece Luiz Pacheco, do segundo tomei conhecimento através de um texto notável de Alexandra Lucas Coelho (provavelmente o mais ousado jamais publicado na imprensa portuguesa dita de referência), e do último (O Meu Pipi: Sermões), cujo autor li com prazer nos tempos do blogue, li uma entrevista em que o jornalista, esforçando-se por ser engraçado e pôr-se ao nível do entrevistado, acabou, esse sim, por cair na ordinarice. Pela simples razão que o humor é só para alguns, e quando mete as tais ordinarices que não são ordinarices, só mesmo para uma minoria. Perguntar-me-ão onde está a fronteira entre a ordinarice pura e a ordinarice que só é na aparência. A resposta parece-me só uma: cada um define a sua. Onde uns verão ordinarice, outros verão outra coisa. Onde uns verão vulgaridade, outros verão subtileza. Como estamos num terreno especialmente escorregadio, onde o subjectivismo dita as duas leis, torna-se difícil dizer o que é ordinário e o que não é. Mas até o subjectivismo assenta em alguns dados objectivos, e os dados objectivos sobre os livros em causa indicam que não são ordinarices. Antes pelo contrário.
13 de abril de 2012
OBSCENIDADES, OU TALVEZ NÃO. Tal como escrever com humor não está ao alcance de qualquer um, escrever ordinarices geralmente não consideradas como tal (ou que apenas o são na aparência) ainda é mais difícil. Isto a propósito de alguns livros recém publicados, especialmente Puta Que os Pariu!, de João Pedro George, Pornopopeia, de Reinaldo Moraes, e de um misterioso autor português que dá pelo pseudónimo de O Meu Pipi. Do primeiro, nomeadamente do título, pouco terá a dizer quem já conhece Luiz Pacheco, do segundo tomei conhecimento através de um texto notável de Alexandra Lucas Coelho (provavelmente o mais ousado jamais publicado na imprensa portuguesa dita de referência), e do último (O Meu Pipi: Sermões), cujo autor li com prazer nos tempos do blogue, li uma entrevista em que o jornalista, esforçando-se por ser engraçado e pôr-se ao nível do entrevistado, acabou, esse sim, por cair na ordinarice. Pela simples razão que o humor é só para alguns, e quando mete as tais ordinarices que não são ordinarices, só mesmo para uma minoria. Perguntar-me-ão onde está a fronteira entre a ordinarice pura e a ordinarice que só é na aparência. A resposta parece-me só uma: cada um define a sua. Onde uns verão ordinarice, outros verão outra coisa. Onde uns verão vulgaridade, outros verão subtileza. Como estamos num terreno especialmente escorregadio, onde o subjectivismo dita as duas leis, torna-se difícil dizer o que é ordinário e o que não é. Mas até o subjectivismo assenta em alguns dados objectivos, e os dados objectivos sobre os livros em causa indicam que não são ordinarices. Antes pelo contrário.