13 de abril de 2012
OBSCENIDADES, OU TALVEZ NÃO. Tal como escrever com humor não está ao alcance de qualquer um, escrever ordinarices geralmente não consideradas como tal (ou que apenas o são na aparência) ainda é mais difícil. Isto a propósito de alguns livros recém publicados, especialmente Puta Que os Pariu!, de João Pedro George, Pornopopeia, de Reinaldo Moraes, e de um misterioso autor português que dá pelo pseudónimo de O Meu Pipi. Do primeiro, nomeadamente do título, pouco terá a dizer quem já conhece Luiz Pacheco, do segundo tomei conhecimento através de um texto notável de Alexandra Lucas Coelho (provavelmente o mais ousado jamais publicado na imprensa portuguesa dita de referência), e do último (O Meu Pipi: Sermões), cujo autor li com prazer nos tempos do blogue, li uma entrevista em que o jornalista, esforçando-se por ser engraçado e pôr-se ao nível do entrevistado, acabou, esse sim, por cair na ordinarice. Pela simples razão que o humor é só para alguns, e quando mete as tais ordinarices que não são ordinarices, só mesmo para uma minoria. Perguntar-me-ão onde está a fronteira entre a ordinarice pura e a ordinarice que só é na aparência. A resposta parece-me só uma: cada um define a sua. Onde uns verão ordinarice, outros verão outra coisa. Onde uns verão vulgaridade, outros verão subtileza. Como estamos num terreno especialmente escorregadio, onde o subjectivismo dita as duas leis, torna-se difícil dizer o que é ordinário e o que não é. Mas até o subjectivismo assenta em alguns dados objectivos, e os dados objectivos sobre os livros em causa indicam que não são ordinarices. Antes pelo contrário.