29 de outubro de 2012
TALVEZ PESSOA. Alertado para uma biografia de Fernando Pessoa de que nunca ouvira falar, numa rápida pesquisa no Google cheguei a Fernando Pessoa: Uma quase-autobiografia, do brasileiro José Paulo Cavalcanti Filho. Fiquei então a saber que a obra foi editada no Brasil em 2011, e comecei por estranhar só um ano depois ouvir falar dela. Pior: as entrevistas que fui lendo e ouvindo aumentaram-me a desconfiança. Mesmo assim, resolvi arriscar. Uma vez que resido fora do país, onde os livros comprados em Portugal ou no Brasil me chegam acrescidos de portes proibitivos, optei pelo ebook. Poucos dias depois deparo com uma crítica de Teresa Rita Lopes, ao que parece respeitada investigadora de Pessoa, onde ela diz que a obra contém toda a sorte de erros factuais, alguns deles grosseiros, entre outros defeitos. Posteriormente, António Guerreiro, no Expresso, disse mais ou menos o mesmo: o livro não é credível. Perante isto, que não foi pouco, o biógrafo não tugiu, nem mugiu. Mais recentemente fico a saber que a Academia Brasileira de Letras o considerou «livro do ano» e a «mais importante biografia de Pessoa», e que foi nomeado para o Prémio Jabuti. Mesmo sabendo que o Jabuti não é um prémio qualquer, não me espanta a nomeação, nem me espantará que o ganhe. Já a decisão da Academia causou-me perplexidade, muito acrescida por não ter visto, até agora, quem se espantasse. Perante isto, sobram duas perguntas: o livro é tão mau como os entendidos garantem, ou os membros da Academia são, no mínimo, incompetentes? Como presumo que os primeiros não exageram e a Academia é uma instituição respeitável, tenho um problema. Seriam bem-vindas, portanto, novas polémicas, de modo a saber se o livro vale, ou não, a pena, se é credível, ou não. Como se trata de uma biografia, ou «quase-autobiografia», não me parece uma questão de somenos.