21 de novembro de 2012

INDIGNADOS E DESORDEIROS. O Jornal de Angola, baluarte do jornalismo universal e provavelmente da Rua Ginga, resolveu disparar sobre a generalidade dos media portugueses e, de caminho, elogiar o regime de Eduardo dos Santos. Segundo um tal Álvaro Domingos, ao que parece um sujeito que se desdobra em prosas por variadíssimas publicações e se distingue pelo uso de variadíssimos pseudónimos (ou heterónimos, ou lá o que seja), por estes dias aconteceu em Portugal «um verdadeiro massacre sobre manifestantes indignados» e «cidadãos indefesos», que «as máfias» que dominam o jornalismo português fingem não ter acontecido. Pior: segundo ele, «os direitos humanos estão em perigo em Portugal», e Angola, na qualidade de país membro da CPLP, não pode «ficar em silêncio». É hora, pois, de «convocar todos os líderes da comunidade para avaliar a situação dos direitos humanos em Portugal», «de cerrar fileiras e exigir que Portugal respeite os direitos humanos». Depois elogia o regime que lhe dá de comer, e dá uns conselhos que Portugal deve seguir. «Angola tem sido (...) o baluarte da democracia e da liberdade na comunidade de países que falam a língua portuguesa», pelo que a polícia portuguesa teria tudo a ganhar indo a Luanda aprender como se faz com a polícia local. Dá um exemplo comovente: quando algumas dezenas de jovens, «manipulados por partidos políticos que ainda têm o cordão umbilical ligado às máfias políticas em Portugal, fizeram manifestações de rua, tudo acabou de uma forma civilizada». E acrescenta: «choveram pedras sobre os agentes da polícia e os seus carros», mas apesar do percalço «tudo se resolveu com a detenção dos desordeiros». Como terão notado, quem, em Portugal, se manifesta contra o Governo de forma violenta, são «manifestantes indignados»; quem, em Luanda, se manifesta contra o Governo de forma violenta, são «desordeiros». Como se costuma dizer nestes casos, todo um programa. Tudo isto porque a Procuradoria-Geral da República terá aberto um inquérito por suspeita de fraude fiscal e branqueamento de capitais envolvendo três altas figuras do Estado angolano (Manuel Vicente, vice-presidente de Angola e ex-director-geral da Sonangol, Hélder Vieira Dias, ministro de Estado e chefe da Casa Militar da Presidência da República, e Leopoldino Nascimento, consultor do ministro de Estado e ex-chefe de Comunicações da Presidência da República), que obviamente dará em nada. Imaginem se desse nalguma coisa.