6 de novembro de 2012
SANDY (2). Só ao quinto dia a dona Sandy me deixou viver como habitualmente. Quase uma semana sem electricidade, sem frigorífico, sem aquecimento. Com filas para o café e para a gasolina, que ainda não terminaram. Sem internet. Com sucessivos jantares à luz das velas, cada vez menos românticos, e com noites seguidas embrulhado em cobertores a sonhar com o paraíso, um modesto interruptor capaz de acender um candeeiro, de ligar o aquecimento. E a ler Mark Twain, A Viagem dos Inocentes, com um sentido no relato e três na electricidade que não vem, na gasolina que escasseia, na temperatura que desce perigosamente. Podia ter sido pior? Podia. O meu vizinho partiu uma perna num acidente de automóvel, mas teve sorte: podia ter partido as duas. O meu vizinho caiu da varanda e partiu a cabeça e um braço, mas teve sorte: podia ter morrido. Resumindo, o meu vizinho partiu uma perna, um braço, a cabeça — e ainda deve mostrar-se agradecido pela sorte que teve.