25 de março de 2013

PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. Imaginem que meia dúzia de sujeitos assalta uma ourivesaria e a polícia consegue apanhá-los com a boca na botija. Qual será o título dos jornais do dia seguinte? Mais ou menos assim: «Larápios apanhados em flagrante pela polícia.» Imaginem que um pai viola a filha e esta decide contar o caso ao fim de 20 anos de abusos constantes. Qual será o título nos jornais do dia seguinte? Mais ou menos assim: «Monstro viola a própria filha durante duas décadas.» Como vêem, os jornais, e os media em geral, tratando por «larápios» e «monstros» sujeitos que à partida a justiça considera inocentes até prova em contrário, acabam a julgá-los na praça pública, e como não vejo reclamações parece que a coisa está bem. Acontece que os protagonistas destes casos deviam merecer a mesma presunção de inocência que se reclama para os figurões que por aí andam a cometer crimes iguais ou piores, cujo poder que detêm obriga os media a medir as palavras e a ser mais cautelosos, e a mesma indignação de quem não se cansa de acusar os media, quase sempre com razão, de fazer julgamentos sumários sempre que dão notícias de que figurões são suspeitos de actividades ilícitas. Até por aqui se vê que o cidadão comum não tem o mesmo tratamento da justiça que tem um figurão, embora dizer isto é o mesmo que dizer que o dinheiro não dá felicidade... mas ajuda bastante.