26 de abril de 2013
TIRO AO SÓCRATES. Por variadíssimas razões, desde a licenciatura de fim-de-semana ao estado em que deixou o país, passando pelos tiques de autoritarismo e pela má-criação, não tenho estima pessoal ou política por José Sócrates. Mas custa-me vê-lo apoucado por políticos em geral e ex-governantes em particular, que não abririam a boca caso tivessem vergonha na cara. O ex-primeiro-ministro regressou de Paris e, de repente, passou a ser responsável por todos os males da pátria. Ainda não percebi, por exemplo, por que razão devia Sócrates, na entrevista à RTP, pedir desculpas aos portugueses pelos males causados ao país. Não que me escandalize tal prática ou não haja motivos para tal, mas porque nunca vi exigir tal coisa aos antecessores que por aí andam a tagarelar em tudo o que é televisão. Não deviam, também eles, pedir desculpas? Ou o princípio das desculpas só se aplica a Sócrates? Outra coisa que não percebi na entrevista foi a introdução do «fact-checking», mecanismo que se destina a apurar a veracidade do que é dito. O jornalismo português descobriu, de repente, a pólvora, dez séculos após ter sido inventada? A prática veio para ficar? Como não me consta que Sócrates possa voltar a ser primeiro-ministro (ou presidente da República) por decreto, tanto barulho só pode significar uma coisa: têm medo dele. Medo que possa voltar a liderar o PS, como líder ganhar eleições, e ganhando-as voltar a ser primeiro-ministro. Ou, então, Presidente da República, caso se candidate e ganhe. Medo, em suma, da democracia, como dizia o outro o pior dos regimes excluindo todos os outros. Também a mim não me agradam estes cenários. Mas ainda me agrada menos que o queiram afastar por decreto. Pior: desagrada-me não haver políticos capazes de se bater com ele. Coisa, suponho, que não será culpa dele.