2 de maio de 2013
COMENTADORES. Não sei se o comentário político nos media devia estar reservado, apenas, aos jornalistas, como defendem alguns. Mas já me parece excessiva a quantidade de políticos, no activo ou não, que proliferam por tudo o que é espaço de comentário. Não tenho dados que permitam demonstrá-lo, mas suspeito que os políticos geram audiências — telespectadores, ouvintes, leitores. Cai assim, portanto, a ideia sobre quem deve opinar sobre o quê, porque são as audiências que os desejam, e o cliente tem razão mesmo quando não tem. Claro que os políticos/comentadores têm as suas próprias agendas, exprimem opiniões mais em função dos seus próprios objectivos que por convicções pessoais (quando as têm), por vezes comentam questões em que são claramente parte interessada, e quem os ouve nem sempre sabe disso. Mas não tenhamos ilusões: também os jornalistas raramente podem dizer o que pensam. Por causa da agenda (alguns também têm), por causa do emprego, por causa de outros interesses ou impedimentos. Discordo, igualmente, da ideia de que há excesso de comentadores, sobretudo nas televisões, incluindo comentadores de que tudo parecem ser especialistas, a que alguém muito apropriadamente chamou «tudólogos». Discordo por uma razão: quanto mais comentadores houver, quanto mais espaço de comentário existir, melhor esclarecidos ficarão os cidadãos — a quem cabe, afinal, rejeitá-los se assim o desejarem. O problema de certo jornalismo é esquecer-se demasiadas vezes a quem se destina — aos telespectadores, aos ouvintes, aos leitores. «O comentário para ser credível deve ser feito por pessoas independentes e não por quem tem interesses directos ou indirectos na matéria que comenta», diz o provedor do telespectador da RTP, que publicamente discordou da «aquisição» de Sócrates pela RTP. Em teoria, faz todo o sentido. Na prática, tenho dúvidas. Quem são — e onde estão — os independentes? Quem não tem interesses directos, ou indirectos, nas matérias que comenta? Por acaso achará o provedor que os jornalistas poderão desempenhar cabalmente esse papel? Valerá a pena lembrar que o actual Governo recrutou uma dezena de jornalistas do DN? Foram lá parar graças a quê?