21 de junho de 2013
DESTES JÁ NÃO SE FAZEM. Revi Conversas Vadias, para quem não sabe uma série de 13 entrevistas que o professor Agostinho da Silva concedeu à RTP nos anos 90. Tinha eu nessa altura trinta e poucos, e das poucas que então vi pouco ou nada recordo. Vistas agora, surpreendeu-me a impreparação da generalidade dos entrevistadores, ao que sei a fina flor do jornalismo da época (mas não só do jornalismo), que não poucas vezes se perderam nos labirínticos raciocínios do professor e/ou desempenharam um papel que não era o deles. Foram incontáveis as vezes que o interromperam para lhe fazer perguntas a despropósito e sem qualquer motivo lhe cortaram o raciocínio, não poucas vezes com o único propósito de tentarem brilhar como entrevistadores. Os que se portaram pior foram Adelino Gomes, Baptista-Bastos e Joaquim Vieira, de certa maneira uma surpresa. Sobretudo este último, que desde o início procurou apoucar, sem sucesso, o entrevistado. Que passou toda a entrevista armado em carapau, tentando exibir conhecimentos que claramente não tinha. Que a acutilância do entrevistado acabou por colocar no devido lugar, criando-lhe situações tão embaraçosas como hilariantes, virando o feitiço contra o feiticeiro. Claro que não era fácil entrevistar Agostinho da Silva, e nalguns casos notou-se bastante. Afinal, o professor de tudo parecia saber, saltava de assuntos complexos para assuntos complexíssimos como quem se diverte a saltar à corda, por vezes deixava cair ideias tão originais como desconcertantes — e o abismo entre quem perguntava e quem respondia crescia rapidamente. Escusado dizer que aconselho as Conversas a quem nunca as viu (todas no YouTube), e a quem as viu nos anos 90 que as reveja, que seguramente irá ver o que não viu antes, como sucedeu a este vosso criado. Surpreendentemente, a entrevista que mais gostei foi conduzida por dois jovens estudantes, que fizeram perguntas pertinentes, inteligentes, despretensiosas. Também gostei da entrevista do Herman e da Isabel Barreno. Mas podem começar pela última, a de Joaquim Vieira, que a ordem não tem importância — e talvez seja um aperitivo para as restantes.