31 de julho de 2013
BRINCAR AOS POBREZINHOS. Alertado por meio mundo, fui ler a reportagem do Expresso sobre a Comporta, ao que dizem um «refúgio das elites». A fazer fé no que lá vem, aquilo é espíritos santos e realezas por todo o lado, nomes sonantes de toda a espécie e proveniência que lá decidiram assentar arraiais, festas na praia regadas a champanhe — mas quando se fala dos habitantes locais (também há), o jornalista resume-os ao «arrozeiro», ao «maneta», e ao «patusco». Um só habitante é identificado pelo nome próprio, mas só pelo primeiro, ao contrário das «elites», identificadas uma a uma do primeiro ao último nome, incluindo o petit nom. Estar na Comporta «é como brincar aos pobrezinhos», refere, às tantas, uma Espírito Santo, que já deu origem a um movimento que promete ir brincar para o local e a um pedido de desculpas da própria. Visto e revisto, confesso que se alguma coisa me incomodou foi o papel a que o jornalista se prestou, certamente para agradar a quem o acolheu durante um mês inteiro. Bernardo Mendonça esqueceu-se que os habitantes locais têm nome e dignidade.