7 de fevereiro de 2014

A DEMOCRACIA QUE HÁ. Não é novidade para ninguém, mas não fará mal recordar como são escolhidos os candidatos a deputados ao Parlamento Europeu e Assembleia da República: alguém sugere os nomes, e o chefe do partido por quem se candidatam aprova, ou não. Depois, os eleitores votam em quem os chefes determinaram, e caso não gostem dos nomes propostos resta-lhes votar nos «outros», abster-se, ou não por os pés nas mesas de voto. Também será desnecessário lembrar que os eleitos do chefe «têm que se portar bem» — antes de serem candidatos, porque doutro modo não serão escolhidos; depois de já terem sido deputados, porque serão excluídos das próximas listas caso tencionem recandidatar-se. Temos, portanto, centenas de deputados no Parlamento a fazer o que quatro ou cinco chefes partidários faria com a mesma legitimidade dos duzentos e tal, e com maior economia de meios. Sim, as coisas são o que são graças ao sistema que temos. Mas convém lembrar que o sistema que temos é assim porque ninguém quer que seja doutra maneira. O resultado deste embuste democrático (chamemos-lhe assim para simplificar) é um sistema onde quatro ou cinco mandam em todos, que por sua vez obedecem a quem tem o livro de cheques. Queiramos, ou não, é a democracia que há. Ou a «ausência de democracia», de que há pouco se queixava Rui Rio, que ainda no dia anterior, então presidente de uma autarquia, não o incomodou por aí além.