25 de março de 2014

RODRIGUINHOS. Presumo que o formato do comentário de José Sócrates na RTP, estabelecido entre a estação pública e o ex-primeiro-ministro, prevê um comentário semanal sobre temas da actualidade. Pretextando ter-se limitado a cumprir o papel que lhe cabe (jornalista), profissão que pela enésima vez lembrou ter sido aprendida na BBC (não sei com que intenção), Rodrigues dos Santos resolveu quebrar as regras (confrontou o ex-primeiro-ministro com afirmações proferidas no passado sobre o tema que estava em discussão) previamente acordadas. Manifestada a surpresa de Sócrates (alguns dizem irritação), e criticado por um ror de gente, Rodrigues dos Santos decidiu defender-se no Facebook. E que disse ele? Disse, em resumo, o seguinte: tratou-se de uma entrevista, e o papel do jornalista numa entrevista «é fazer de "oposição" ao entrevistado». Ora, o programa não é uma entrevista. É público que Sócrates foi contratado para comentar a actualidade, não para ser entrevistado. O modelo acordado entre as partes apenas serve para Sócrates branquear o passado e fazer campanha de borla? Nesse caso, reformule-se, ou acabe-se com ele. Depois, o papel do entrevistador não é fazer de «oposição» ao entrevistado, como escreveu Rodrigues dos Santos, mesmo que entre aspas. O papel do entrevistador é fazer as perguntas que as circunstâncias exigem, e fazer os possíveis para as ver respondidas. Só isso. E convenhamos que já não é pouco.