3 de julho de 2014
CLARA E O PROVINCIANISMO CHIQUE. Dificilmente haverá coisa mais chique do que ir a Nova Iorque e falar mal de Nova Iorque, e aproveitar a boleia para gozar com os americanos, essa gente primitiva e estúpida. Ele são os «restaurantes de BBQ com cheiro a óleo refrito e a restos de anteontem» e «a bacon queimado e carne fumada», ele é a «cerveja requentada e sarro nos copos», ele é «o tipo de casais que acham que podem ter uma conversa romântica num sítio daqueles [sports bars] enquanto devoram um quilo de batatas fritas», «do estilo que mistura cocktails com rabos de lagosta e ketchup». Foi o que fez Clara Ferreira Alves, a que ainda juntou outra coisa que fica sempre bem nas ocasiões em que, talvez por razões profissionais, se é obrigado a falar de futebol: fingir que não se percebe nada, que não se conhecem os nomes dos jogadores, que futebol é coisa de gente pouco letrada. A receita (uma mistura de estereótipos, lugares-comuns, ideias pré-concebidas, superioridade moral e intelectual e o mais que ignoro) é conhecida, e com sucesso garantido em certos meios. O mais interessante é que Clara Ferreira Alves é uma jornalista dos meios culturais, pelo que seria de esperar um pouco menos de ignorância. Sim, ignorância, que não estou a ver outra coisa que se lhe possa chamar.