15 de janeiro de 2015
PARECE QUE DESTA VEZ A CULPA NÃO FOI DOS AMERICANOS. Perdoem-me a ironia, mas não resisto a confessar a minha surpresa por ainda não ter visto, uma semana após a tragédia francesa, uma só alma dizer que a culpa é dos americanos. Tirando Ana Gomes, que disse os disparates a que já nos habituou (começou por dizer que o atentado foi «também o resultado de políticas anti-europeias de austeridade», e anteontem escreveu, a propósito da edição do Charlie Hebdo onde o profeta surge na capa a lamentar o que fizeram em seu nome, que era mais uma ofensa aos muçulmanos), ainda não vi o habitual passa culpas para os americanos. Quanto ao resto, tudo como dantes. Já se vai ouvindo o tradicional «está mal, mas...», quem aponte o dedo a uma publicação que vive de excessos, provocações e insultos — logo estava mesmo a pedi-las. Não faltará quem, nos próximos tempos, tentará, de certa maneira, justificar a carnificina (explicando, contextualizando, desculpabilizando), culpando quem não tem culpa, e fazendo com que os verdadeiros culpados até pareçam as vítimas.