20 de março de 2015
NÃO ME COMPROMETAM. Já toda a gente percebeu a estratégia de António Costa: esperar que Passos Coelho e o Governo caiam de maduros. Provavelmente não haverá melhor expediente para ganhar eleições e chegar ao poder, e daí tantas vezes dizer-se que não foi fulano quem as ganhou, mas sicrano quem as perdeu. Tirando uma argolada aqui e além (o episódio dos chineses, por exemplo), o líder do PS promete tudo em abstracto, mas nada em concreto. Sempre achei que qualquer líder do PS seria melhor que António José Seguro, e que António Costa seria, de longe, melhor do que ele. Hoje, se não tenho saudades de Seguro (não sou militante do PS, nem, sequer, simpatizante), sou forçado a admitir que António Costa saiu pior que a encomenda. É previsível que um candidato a primeiro-ministro com fortes probabilidades de ser eleito tenha um discurso de meias-tintas no que toca a promessas concretas. Mas começo a fartar-me de quem não diz ao que vem, de quem não se compromete com receio de não cumprir — ou de fazer o oposto do que prometeu. Ou, o que ainda é pior, quem vê o poder não como um meio de mudar o que julga estar mal, mas como um fim em si mesmo. Isto de considerar encerrado o caso de Passos Coelho com os impostos, quando se esperaria que não ficasse satisfeito com a informação que ficou por prestar (e, se fosse caso disso, pedisse mesmo a demissão do primeiro-ministro), pareceu-me uma esperteza saloia. Imagina-se que António Costa prefere que Passos Coelho seja, nas próximas legislativas, o alvo a abater, e não outro que o viesse substituir. O primeiro-ministro está desgastado pelo poder, e o episódio dos impostos desgastou-o ainda mais — e vai, seguramente, entrar na campanha eleitoral. Foi isto, a meu ver, o que travou o líder do PS, demonstrando que politicamente é farinha do mesmo saco.