21 de janeiro de 2016
VIVER FAZ MAL À SAÚDE. Provavelmente a Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda não chegou a essa conclusão, mas tenho fortes razões para suspeitar que viver faz mal à saúde. Pior: é perigoso. Como sabemos pelos vários exemplos que vamos conhecendo, um tipo está sujeito a empandeirar de um momento para o outro, ou a diagnosticarem-lhe uma daquelas doenças que deprime só de pensar. É um facto que a OMS se tem esforçado para nos salvar — proibindo o excesso de sal, recomendando cortes obscenos no açúcar, advertindo que o uso excessivo de certas carnes provocam o cancro, e um ror de outras maleitas de que é bom nem falar. Mas nós, casmurros moldados por gerações de casmurros, fazemos que não ouvimos, que não sabemos, que os alarmes são conspirações da indústria alimentar — e atiramo-nos aos chouriços como uns desalmados, aos bifes como se não houvesse amanhã, e aos pastéis que vão da raia galega às praias do Algarve sem a mais leve discriminação. Resumindo, fazemos tudo ao contrário do que recomenda a santíssima OMS, continuando a praticar com fervor o princípio de que o que faz mal só pode ser bom. Se correr mal, bateremos a bota com a doença da moda. Se correr bem, esticaremos o pernil porque sim. Pelo sim, pelo não, sigamos o chouriço.
15 de janeiro de 2016
LUZ EM TEMPO DE TREVAS. Quatro da manhã num aeroporto deserto, primeiro dia de 2016. Retomo as aventuras de Bandini (Sonhos de Bunker Hill, Alfaguara), e avanço uma dúzia de páginas sempre com um sorriso — apesar de a ocasião não me estar de feição para sorrisos. A Primavera Há-de Chegar, Bandini (Ahab), A Estrada para Los Angeles (Alfaguara), e Pergunta ao Pó (Ahab), que também li com prazer, completam o que viria a designar-se O Quarteto Bandini. Para quem não sabe, Bandini é uma espécie de alter ego de John Fante, que por sua vez inspirou o alter ego de Bukowski (Henry Chinaski) — e foi, como outros autores (Mann, Kafka, Zweig, Hemingway), muito inspirado por Hamsun, escritor norueguês até há pouco injustamente votado ao ostracismo por ter simpatizado com uma causa errada (o nazismo). Fante não é um nome incontornável da literatura norte-americana, muito menos americana, e ainda menos universal. Mas é um escritor que ainda hoje, mais de três décadas após a sua morte, nos diz infinitamente mais que alguns que o tentaram imitar ou lhes serviu de inspiração — e quase todos os que hoje andam para aí a somar prémios e palmadinhas nas costas cujo pudor me impede de nomear.
11 de janeiro de 2016
NÃO EXAGEREMOS. Se a notícia da morte de David Bowie não me parece exagerada, como disse Mark Twain a propósito da falsa notícia da sua própria morte, já me parece que os elogios ao músico inglês são manifestamente exagerados. Bowie foi um génio? Um farol? Um Messias? Se a ideia é homenageá-lo, convém poupar os disparates.
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