10 de maio de 2016
CONCORDAR PORQUE SIM. Deixei de prestar atenção às razões dos que se opõem ao Acordo Ortográfico de 1990 (daqui em diante o Acordo). Porque julgo conhecê-las todas, e quem as conhece sabe que não são poucas. Já a favor, mal se publica algo vou logo ver, sempre na esperança de descobrir um argumento que me tenha escapado ou algum novo que mereça atenção. Foi o que fiz com o texto de Bacelar Gouveia, no DN da semana passada. Sem surpresa, nada que já não tenha sido dito. O alfabeto aumentou de 23 para 26 letras, congratula-se o professor. Depois, «é muito boa ideia não escrever letras que não se pronunciam, até por uma razão de economia de esforços». Como «há já vários anos que a nova ortografia é utilizada nos manuais e no ensino, e há já algumas gerações de alunos que aprenderam o português na nova ortografia (...), o pai ou a mãe poderem aprender com os seus filhos (...) a nova ortografia portuguesa!», escreveu Bacelar Gouveia, exclamação incluída. E considerou «legítimas e boas as suas finalidades» (que não enunciou), «bem como muito lógicas as suas soluções» (nem um exemplo para amostra). Terminou a arenga desta maneira: «(...) as queixas, os queixumes, as lamúrias, os remoques ou as piadas vêm basicamente de dois setores: os que são mais velhos, isso se compreendendo pela sua maior dificuldade e resistência à mudança; também de uma certa elite pensante que erigiu o Acordo Ortográfico a tema e moda de discussão fundamental, à falta de capacidade para terçar armas por coisas mais substanciais que verdadeiramente interessam a Portugal». Espreitei a página dele na internet, e fiquei esmagado com tão impressionante currículo. Logo à entrada, fiquei a saber que o «cidadão empenhado» está receptivo a todos os contributos e sugestões que queiram enviar-lhe, pois acredita «que é no espaço público do diálogo e dos valores que podemos construir um mundo melhor». Assim sendo, cá vai uma sugestão: que tal terçar armas em defesa do Acordo com argumentos a sério? Talvez os opositores da pantomina sejam «basicamente» os «mais velhos» (por mera resistência à mudança) e uma «certa elite» (presumo que ociosa ou ignorante). Mas o cidadão empenhado há-de ter reparado que uns e outros o fazem com argumentos, dezenas deles. Já o professor, nem um para amostra.