3 de junho de 2016
PARECE QUE VALE TUDO. Lembro-me de um jornalista ter confrontado Donald Trump com um facto aparentemente embaraçoso envolvendo um dos seus muitos negócios e de o multimilionário ter respondido: «It's business.» Por momentos, o jornalista embatucou, mas logo passou adiante — como achasse que a pergunta estava respondida, e de modo irrefutável. Ora, a resposta de Trump não me convenceu, e a satisfação (ou resignação, não percebi bem) do jornalista até me surpreendeu. Vale tudo nos negócios? Devo dizer que não me choca por aí além o vale tudo nos negócios quando se trata de alguém que não é candidato a nada. Mas como não questionar quem é candidato a um cargo político que é suspeito de nas suas actividades profissionais ter desempenhos eticamente reprováveis? Imagino que Donald Trump está cheio destes casos, e até há suspeitas de casos piores. Mas, a avaliar pelo encolher de ombros do jornalista e pelo silêncio sepulcral que o episódio causou, isto não conta para nada. Os negócios tornaram-se uma espécie de religião que ninguém questiona, muito menos descrê. Muitíssimo apropriada uma passagem de Claudio Magris em A História Não Acabou: «O empresário é personagem de todo o respeito e de central importância no âmbito da colectividade que lhe é própria; torna-se uma figura ridícula (...) se for proposto como modelo universal humano.» É onde estamos.