22 de novembro de 2016
A PÓS-VERDADE. Nunca, como hoje, foi possível verificar os factos de forma tão rápida e eficiente, e nunca, como hoje, os factos valeram tão pouco. Veja-se, por exemplo, Donald Trump. Mentiu descaradamente durante a campanha presidencial, os jornalistas descobriram-lhe a careca, e aconteceu o quê? Rigorosamente nada. Quem o achava assim ou assado não mudou de opinião, e não foram as constantes mentiras logo descobertas que mudaram alguma coisa. Chegámos a um tempo em que uma mentira no Facebook ou uma irrelevância no Twitter têm mais credibilidade e/ou importância que o jornalismo, crucial em democracia por mais falhas que tenha. Chegámos, como agora se diz, à pós-verdade, a um tempo em que as mentiras valem tanto, se não mais, que o melhor jornalismo. Será uma fase passageira. Mas tudo indica que vai deixar estragos irremediáveis.
17 de novembro de 2016
VIRA O DISCO E TOCA O MESMO. Afinal, o chamado Obamacare, que Trump prometeu exterminar (agora diz ser parcialmente aproveitável), não é tão mau como parecia. Afinal, Hillary Clinton, que Trump ameaçou pôr na cadeia, é «boa pessoa», pelo que não moverá uma palha para que isso suceda. Afinal, Barack Obama, até há pouco a encarnação do demónio, «fez coisas maravilhosas durante a sua Administração». Tudo isto uma semana após ser eleito, o que desde logo levanta uma questão: o que pensará destas bruscas — e escassamente fundamentadas — mudanças de opinião quem votou nele? Achará normal? Oxalá me engane, mas desconfio que grande parte dos votantes de Trump serão as primeiras vítimas de Trump.
10 de novembro de 2016
O PIOR DOS REGIMES EXCLUÍDOS TODOS OS OUTROS. Não há, até ver, o mais pequeno sinal de que tenha havido fraude eleitoral, pelo que a vitória de Donald Trump é incontestável. Mas fosse Hillary Clinton a vencer pela margem que Trump venceu, e estaríamos a assistir à contestação dos resultados — como Trump, aliás, ameaçou durante a campanha. Contestação que poderia não ser pacífica, como a que está a ocorrer em alguns pontos do país, mesmo assim lamentável. Não gostam de Donald Trump? Eu também não. Mas é preciso não esquecer que Trump foi eleito democraticamente. Repito: democraticamente. Será, por isso, o meu presidente. Por mais que isso me custe.
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