20 de janeiro de 2017
TOMAR NOTA. Aldous Huxley publicou, em 1931, Music at Night And Other Essays (Música na noite & outros ensaios na tradução brasileira publicada pela L&PM), excelente volume de ensaios onde se lê a páginas tantas: «Houve um tempo, não muito tempo atrás, no qual o estúpido e o inculto aspiravam a ser considerados inteligente e cultos. A corrente da aspiração mudou sua trajetória. Não é nem um pouco incomum, agora, encontrar pessoas inteligentes e cultas fazendo o melhor que podem para simular estupidez e ocultar o fato de que receberam uma educação. Vinte anos atrás, ainda era um elogio dizer sobre um homem que ele era esperto, instruído, interessado nas questões da mente. Hoje, “erudito” é um termo de abuso desdenhoso.» Não sou um observador deste «fenómeno», mas atrevo-me a dizer que as coisas melhoraram pouco de então para cá. Continua a não se perder uma oportunidade de chamar «erudito» (agora é mais «intelectual», ou «pseudo-intelectual») a quem não se fique pela rama das coisas, obviamente um insulto. Se na época o «fenómeno» se deveria à circunstância de o conhecimento não estar ao alcance de todos, hoje, que está ali ao virar da esquina, custa entender. Comparem-se, por exemplo, os políticos/governantes de hoje aos políticos/governantes das últimas décadas. Não estariam os de ontem melhor preparados que os de hoje? Olhando um pouco para trás, constata-se que o conhecimento actualmente disponível não é proporcional ao conhecimento adquirido — e pouco se evoluiu de então para cá. Por que será?