17 de maio de 2017
TRUMP VAI ESCREVENDO O SEU PRÓPRIO EPITÁFIO. Duvido que alguma vez se demonstre a existência de conluio entre o governo russo e a campanha de Trump, até porque o que há, até ver, são meras suspeitas. Mas que as ligações perigosas de alguns membros de topo da campanha de Trump ao governo russo são mais que muitas (já vai em 17 membros), não há dúvida que são. O que terá levado Trump a esperar 18 dias para afastar o general Flynn depois de saber que o então conselheiro de Segurança mentiu ao vice-Presidente e o mais que não sabemos? Esteve à espera que os media, no caso o Washington Post, denunciassem o caso para que já não lhe fosse possível escondê-lo? O que terá levado Trump a elogiar o Presidente Putin e a desvalorizar a comprovada interferência russa nas presidenciais americanas mesmo depois de membros do seu gabinete terem acusado a Rússia de não cumprir, na Síria, o que prometeu? O que terá levado Trump a encontrar-se, quase em segredo, com o ministro russo dos Negócios Estrangeiros e o embaixador russo em Washington, com quem partilhou, tudo indica que de modo indevido, informação reservada, como o próprio acabou por confirmar depois de ter mandado desmentir? Que mais haverá para que Trump insista em defender a administração russa contra todas as evidências? Que ligações terá o Presidente à Rússia para que a investigação em curso o perturbe assim tanto? Terá o general Flynn, agora obrigado a depor no Senado (e com sérias hipóteses de acabar na cadeia), alguma história para contar que embarace o Presidente? Terá Vladimir Putin na sua posse matéria capaz de chantagear Trump e destruí-lo politicamente? Como se vê, sobram perguntas, e escasseiam respostas. Algumas terão resposta nos próximos tempos, outras talvez nunca. Creio, no entanto, que se conhecerá o bastante para se vir a demonstrar que a fumaça corresponde, de facto, a um incêndio que vem alastrando a um ritmo alarmante, e desse modo agir em conformidade. E agir em conformidade significa abrir um processo de destituição, que neste momento me parece que é só uma questão de saber quando.
13 de maio de 2017
UM PRESIDENTE A ESBRACEJAR NO PÂNTANO. James Comey, até há dias director do FBI, tornou-se um alvo a abater a partir do momento em que ousou admitir a existência de uma investigação destinada a apurar um eventual conluio entre a campanha de Trump e a administração russa e se distanciou da inventona das escutas à Trump Tower. Como na ocasião seria demasiado escandaloso, Trump aguardou, impaciente, a primeira oportunidade para correr com ele, e julgou que as últimas revelações da controversa figura sobre os não menos controversos e-mails de Hillary Clinton seriam a oportunidade por que ansiosamente esperava. Como se viu, julgou mal, e o tiro saiu-lhe pela culatra. A «questão russa», que Trump e colaboradores consideram uma mera invenção, ganhou ainda maior exposição, e se dúvidas houvesse acerca de um possível conluio entre trumpistas e russos, com o afastamento do chefe da agência que investiga o caso passou a haver ainda mais. Só quem não quer ver consegue desvalorizar que o Presidente — cada vez mais desorientado, cada vez mais de cabeça perdida, cada vez mais desesperado — despediu quem o estava a investigar — logo nunca haverá uma explicação suficientemente boa que apague a suspeita de que Trump pretendeu, com esta medida, travar a investigação russa, como se fosse possível travar a investigação russa demitindo o chefe. Veremos o que isto vai dar, mas tudo indica que vai acabar mal. Para Trump, evidentemente, embora não só. Para mal dos nossos pecados, provavelmente também para nós.
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