13 de maio de 2017
UM PRESIDENTE A ESBRACEJAR NO PÂNTANO. James Comey, até há dias director do FBI, tornou-se um alvo a abater a partir do momento em que ousou admitir a existência de uma investigação destinada a apurar um eventual conluio entre a campanha de Trump e a administração russa e se distanciou da inventona das escutas à Trump Tower. Como na ocasião seria demasiado escandaloso, Trump aguardou, impaciente, a primeira oportunidade para correr com ele, e julgou que as últimas revelações da controversa figura sobre os não menos controversos e-mails de Hillary Clinton seriam a oportunidade por que ansiosamente esperava. Como se viu, julgou mal, e o tiro saiu-lhe pela culatra. A «questão russa», que Trump e colaboradores consideram uma mera invenção, ganhou ainda maior exposição, e se dúvidas houvesse acerca de um possível conluio entre trumpistas e russos, com o afastamento do chefe da agência que investiga o caso passou a haver ainda mais. Só quem não quer ver consegue desvalorizar que o Presidente — cada vez mais desorientado, cada vez mais de cabeça perdida, cada vez mais desesperado — despediu quem o estava a investigar — logo nunca haverá uma explicação suficientemente boa que apague a suspeita de que Trump pretendeu, com esta medida, travar a investigação russa, como se fosse possível travar a investigação russa demitindo o chefe. Veremos o que isto vai dar, mas tudo indica que vai acabar mal. Para Trump, evidentemente, embora não só. Para mal dos nossos pecados, provavelmente também para nós.