O QUE TEM QUE SER FEITO
É possível acreditar numa coisa e no seu contrário? O Presidente Trump acha que sim. Acredita que Putin não interferiu nas presidenciais americanas, e acredita nas agências governamentais americanas que dizem precisamente o contrário. Que sentido isto fará? Para quem acredita nas suas próprias mentiras, fará todo o sentido.
Como estarão lembrados, todas as agências governamentais de inteligência garantem a intromissão russa nas presidenciais americanas, e todos os dias surgem evidências de que assim foi. Mesmo assim, Trump insiste que Putin lhe garantiu, um ror de vezes, que não interferiu, e isso parece bastar-lhe. O que é preciso, para Trump, é ultrapassar o «caso russo», porque o importante é que os EUA tenham uma boa relação com a Rússia — removendo, desde já, as sanções impostas pelo Congresso em resposta à interferência nas eleições. O resto (cada vez mais evidências de conluio entre a campanha de Trump e o Governo russo) não interessa para nada.
John Brennan, ex-director da CIA, acha que Trump tem, por qualquer motivo, medo do que Putin possa fazer, ou do que possa surgir da investigação sobre eventual conluio da sua campanha com Vladimir Putin — pois o comportamento de Trump só pode, segundo Brennan, dever-se a «ingenuidade, ignorância ou medo».
James Clapper, ex-diretor da NSA, considera que os líderes estrangeiros que estendem a passadeira vermelha a Trump são capazes de o manipular. «Acho que tanto os chineses como os russos pensam que podem manipulá-lo», disse Clapper — além de que negar a interferência russa nas presidenciais, como Trump continua a negar, representa, para ele, «um perigo para o país».
Temos, portanto, que só mesmo quem não quer ver não vislumbra a suspeitíssima relação entre Trump e Putin. O que haverá entre eles que explique o comportamento do Presidente americano? Eis a pergunta que muitos fazem e outros evitam fazer. Talvez nunca saibamos toda a verdade. Mas o que vamos sabendo será, a prazo, bastante para se fazer o que tem que ser feito.