24 de março de 2018
A ÉTICA É PARA OS OUTROS. Parece que o novo Presidente do PSD tem como primeiro objectivo perder por pouco as eleições do próximo ano. A ser verdade — por si só uma coisa extraordinária —, coloca-se, desde já, uma questão prática: Rui Rio vai, na campanha eleitoral para as legislativas e europeias de 2019, apelar ao voto para vencer, ou para perder por pouco? Suspeito que a ambição — ou falta dela — lhe vai causar dissabores a curto prazo, sobretudo com os media, que não o pouparão — e são bem conhecidas as fúrias de Rio com os media. Parece, aliás, que já começaram. O novo presidente dos sociais-democratas iniciou o mandato acusando os media de lançar uma campanha contra Elina Fraga e Salvador Malheiro, ambos vice-presidentes do partido. Agora, sobre o já ex-secretário-geral Barreiras Duarte, forçado a demitir-se após ser acusado de falsificar o currículo, Rio começou por dizer que foi um erro prontamente corrigido — mas acabou, tarde e a más horas, por aceitar o inevitável, mostrando total inépcia a gerir o caso e que a ética, afinal, não se aplica a todos. Não sendo eu militante do PSD, a questão não me diz directamente respeito. Mas como Rio se arrisca a ser primeiro-ministro, já não posso dizer que me seja totalmente indiferente. Devo dizer que sempre tive o então presidente da Câmara do Porto como arrogante e autoritário. Por aquilo que tenho visto nas últimas semanas, não será fácil mudar de opinião.
14 de março de 2018
NORMALIZAR A ABERRAÇÃO. Alguma direita portuguesa tem-se esmerado com dezenas de explicações para a vitória de Trump, na minha opinião quase todas acertadas, as menos consistentes pelo menos verosímeis. Nunca disse, porém, que a vitória de Trump se deveu, em parte, à ingerência russa, reconhecida por todas as agências americanas de segurança. (Se a ingerência foi, ou não, decisiva, nunca saberemos, mas que ela existiu, e em larga escala, só Trump e seus papagaios recusam admitir.) Agora a dita direita faz os possíveis e os impossíveis para normalizar a aberração, comparando as aventuras de Trump com as aventuras dos seus antecessores ou adversários políticos — como se fosse possível comparar as aventuras de Trump com as dos seus antecessores ou adversários políticos. Isto de querer fazer com que os «nossos» sejam melhores que os «outros» só porque são os «nossos», é mais ou menos o mesmo que pretender fazer a quadratura do círculo. Por mais voltas que se dê, por mais que se estique daqui e se encolha acolá, nunca funciona. Mais valia, por isso, que a direita se preocupasse em reparar os danos da sua própria casa. É que a vitória de Trump não foi, apenas, a vitória da direita sobre a esquerda, dos conservadores sobre os liberais. Foi, também, uma vitória sobre a direita americana tradicional, que Trump está longe de representar. A mesma direita que durante as primárias fez o que pôde para se ver livre dele, como estarão recordados — e que agora, por cobardia política, se viu forçada a engolir.
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