14 de março de 2018

NORMALIZAR A ABERRAÇÃO. Alguma direita portuguesa tem-se esmerado com dezenas de explicações para a vitória de Trump, na minha opinião quase todas acertadas, as menos consistentes pelo menos verosímeis. Nunca disse, porém, que a vitória de Trump se deveu, em parte, à ingerência russa, reconhecida por todas as agências americanas de segurança. (Se a ingerência foi, ou não, decisiva, nunca saberemos, mas que ela existiu, e em larga escala, só Trump e seus papagaios recusam admitir.) Agora a dita direita faz os possíveis e os impossíveis para normalizar a aberração, comparando as aventuras de Trump com as aventuras dos seus antecessores ou adversários políticos — como se fosse possível comparar as aventuras de Trump com as dos seus antecessores ou adversários políticos. Isto de querer fazer com que os «nossos» sejam melhores que os «outros» só porque são os «nossos», é mais ou menos o mesmo que pretender fazer a quadratura do círculo. Por mais voltas que se dê, por mais que se estique daqui e se encolha acolá, nunca funciona. Mais valia, por isso, que a direita se preocupasse em reparar os danos da sua própria casa. É que a vitória de Trump não foi, apenas, a vitória da direita sobre a esquerda, dos conservadores sobre os liberais. Foi, também, uma vitória sobre a direita americana tradicional, que Trump está longe de representar. A mesma direita que durante as primárias fez o que pôde para se ver livre dele, como estarão recordados — e que agora, por cobardia política, se viu forçada a engolir.