30 de julho de 2020
O GÉNIO DO MAL. Falhada a tentativa de multiplicar os protestos violentos resultantes do assassinato de um afro-americano por um polícia branco, de modo a legitimar uma intervenção federal musculada, o Presidente americano repetiu a receita, desta vez enviando agentes federais para algumas cidades onde os protestos ainda decorrem. Como Trump pretendia, a situação não só piorou como alastrou a outras cidades (onde os protestos já tinham acalmado) — todas, por sinal, e não por coincidência, dominadas pelo Partido Democrático. O ponto de Trump é abrir caminho à tomada de medidas excepcionais que possam inviabilizar as presidenciais de Novembro em locais tradicionalmente dominados pelos democráticos — accionando mecanismos que dificultarão o acesso dos eleitores às urnas, generalizando as suspeitas de fraude, criando o caos a que só ele, Presidente, poderá pôr fim. Como todas as sondagens indicam que perderá em Novembro, incluindo as sondagens dos «amigos» da Fox News e muito por culpa da forma criminosa como lidou — e continua a lidar — com a pandemia de coronavírus, resta-lhe, a seu ver, este caminho. Pelos vários crimes de que é suspeito, por enquanto sem acusação formal por Trump ser quem é, o Presidente corre o risco de acabar na cadeia caso não seja reeleito. Sim, na cadeia, e só surpreenderá quem anda muito distraído. Donald Trump está, por isso, disposto a fazer tudo o que for preciso para vencer, e o tudo incluirá não só a sujeira a que já nos habituou mas outros esquemas mais preocupantes — e, pior, muito perigosos. Oxalá me engane.
17 de julho de 2020
A TERRA NÃO É REDONDA. Os americanos discutem pelo menos há três meses se as máscaras são, ou não são, uma forma eficaz de evitar a propagação do coronavírus. Não porque a comunidade científica tenha dúvidas, mas porque uns quantos indivíduos, emulando o idiota que mora na Casa Branca, decidiram não usar máscara porque sim, politizando um assunto consensual entre os especialistas — e, se virmos bem, do senso comum. (O idiota mudou o comportamento nos últimos dias, numa tentativa, tardia, de acertar o passo, até porque grande parte dos seus apoiantes está a apanhar por tabela.) Estamos, portanto, à mercê dos sujeitos que não usam máscara, mesmo em situações em que a lei os obriga. Porque a obrigatoriedade da máscara viola os direitos dos sujeitos, dizem eles, e os direitos dos sujeitos podem, pelos vistos, violar os direitos dos outros — dos que a usam e não querem ser infectados, e porque ter direitos pressupõe ter deveres. Tudo isto porque o idiota-em-chefe fez os possíveis e os impossíveis para instalar a dúvida no rebanho, sempre predisposto a acreditar no que ele diz e a engolir as suas patranhas. A ignorância (ou cegueira, ou o que for) impede-os de enxergar o que está diante o nariz, e o resultado está à vista: comparado como o resto do mundo, os EUA estão, nesta matéria, ao nível do terceiro mundo. Fosse eu um homem de fé e estaria a rezar para que o idiota apanhasse um susto a sério, embora duvide que aprendesse alguma coisa com isso.
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