25 de outubro de 2020
A VERDADE E A MENTIRA. Já disse e repeti que sou, politicamente, independente, por razões que também já disse e repeti. Considero-me, contudo, moderado, avesso a radicalismos de qualquer natureza, sobretudo de natureza política. Mas os tempos não estão (nunca estiveram) de feição para moderados. Hoje é tudo preto ou branco, a favor ou contra, e não há ouvidos, paciência ou tolerância para quem recusa esse quadro mental. Estamos numa espécie de regresso às cavernas do pensamento, e isso é assustador. Dizia-me alguém, apontando para um objecto, que aquilo não é mais preto, mas a cor que cada um lhe queira atribuir. É um facto que se constata quase diariamente, porque os «factos alternativos», «verdades alternativas» ou «pós-verdades» (leia-se mentiras) criam, pelo menos, a dúvida. Bem e mal informados entram, assim, no mesmo saco. A verdade e a mentira são hoje o que cada um quer que sejam, e os factos só interessam se cumprirem essa função. Chamar-lhe-iam louco a quem previsse, há dois ou três anos, uma coisa destas, o que demonstra bem que os acontecimentos são mais imprevisíveis que as profecias melhor fundamentadas.