22 de janeiro de 2021

QANON. Parece que a grande mentira está com problemas de credibilidade. Falhou, ao que se diz, o essencial, e o essencial era desencadear a «Grande Tempestade» — impedir que Biden tomasse posse como Presidente dos EUA, e que Trump se mantivesse no poder. Há devotos que se sentem defraudados e questionam a sua fé. Crentes perdidos como se fossem órfãos. E gente, muita gente, disposta a engrossar as fileiras do supremacismo branco. Porque já não haverá prisões em massa, execuções sumárias de alegados traficantes de crianças, pedófilos, praticantes de canibalismo e seguidores de Satanás, entre os quais se incluem, segundo a grande mentira, figuras proeminentes do Partido Democrático como Hillary Clinton e Barack Obama, o milionário George Soros, celebridades de Hollywood, o Papa Francisco e o Dalai Lama — o que, a ter acontecido, seria um golpe de estado, obviamente comandado pelo criminoso que ainda há pouco morava na Casa Branca. Como todas as teorias conspiratórias, também esta não passa disso. Mas como há quem as leve demasiado a sério, quando elas não se materializam pode ser uma tragédia. Foi mais ou menos o que sucedeu. Para os devotos mais fervorosos, o falhanço da QAnon foi como se lhes tivesse morrido um parente chegado, nalguns casos ainda mais trágico. Pode ser que ganhem, com isso, algum juízo. Recomendar-lhes-ia, se me pedissem um conselho, um bom livro sobre o tema, que na tradução portuguesa se chama Uma Conspiração de Estúpidos.