24 de setembro de 2021

CONTRA PORQUE SIM. Fernando Nobre, outrora uma figura estimável, voltou à ribalta pelos piores motivos. Diz o médico ter-se curado da covid com fármacos cuja eficácia ninguém confirma, entre eles a hidroxicloroquina, tratamento recomendado, entre outros, por pantomineiros como o ex-Presidente Trump e o ainda Presidente Bolsonaro. Fernando Nobre opõe-se à vacinação e ao uso de máscara, negou sempre a gravidade do vírus, e pôs em causa os testes para o detectar. Tudo isto porque, na sua opinião, as medidas adoptadas para combater a covid atropelam os direitos e liberdades consagrados na Constituição, lei fundamental que serve para quase tudo e o seu contrário. Infelizmente, não demonstrou, com factos cientificamente comprovados, a validade da sua argumentação — tal como, de resto, todos os negacionistas. Depois de nunca ter perdido uma oportunidade para insultar os políticos e diabolizar os partidos, é oportuno lembrar que o fundador da AMI se candidatou à Presidência da República em 2011. Derrotado por Cavaco Silva, e porque o PSD lhe acenou com a possibilidade de ser eleito presidente da Assembleia da República, aceitou, um mês depois de jurar nunca o fazer, ser candidato nas legislativas desse mesmo ano, mas uma derrota de contornos humilhantes impediu-o de cumprir essa ambição. Apesar de prometer exercer o cargo de deputado até ao fim da legislatura caso não fosse eleito presidente do parlamento, um mês depois renunciou ao mandato. O cidadão Fernando Nobre demonstrou, assim, que não é para levar a sério. Viu-se agora que, como médico, também não.

1 de setembro de 2021

TRAFICANTES DE LETRAS. Dada a escassa dimensão do país, o «mundo literário» português é um lugar acanhado. Toda a gente conhece toda a gente, pelo que sempre que falam mal uns dos outros em público, é só elogios. Quando um crítico (ou escritor, quase sempre as duas coisas) não aprecia um livro de um autor português contemporâneo, cai o Carmo e a Trindade. Não será por acaso que os críticos só dão três ou menos estrelas a autores estrangeiros, quase sempre falecidos, que esses não estão cá para os incomodar. Se o autor é português, raramente dão menos de quatro estrelas. (António Araújo e João Pedro George são casos à parte, e haverá mais um ou dois que não conheço.) Temos, portanto, a fiarmo-nos neste «critério», excelentes escritores portugueses no activo, que tirando dois ou três não conheço. Imagino que não será fácil mudar esta prática. Não impede, contudo, que se denuncie.